Os dois calibres de uma prosa -- O anticonvencionalismo metódico de Cidade de Deus.

Autor

  • Wellington Augusto da Silva UFRJ

Abstrakt

Que Cidade de Deus , romance de Paulo Lins, vem a público sob o signo da polêmica não é segredo para ninguém. Muito menos que no livro pode ser acompanhada a evolução do crime na localidade. O leitor deste romance torna-se, assim, íntimo de uma variedade enorme de violência, exposta muitas vezes de maneira direta e cruel: homicídios, assaltos, estupros, perseguições, trocas de tiros, acertos de contas; enfim, mortes de toda ordem. O leitor sabe também que a mutação da criminalidade operada pela introdução do tráfico de drogas teve e tem conseqüências catastróficas, que o une ao mundo narrado, de modo quase direto. Por se tratar de uma composição literária e em que pese seu discurso parecer abandonar as mediações, a configuração da matéria se dá pela recriação das cenas de guerra em larga escala sugerindo, inclusive, a impressão de um roteiro de filme norte-americano. Para isso, a narrativa é constituída por uma movimentação intensa encarnada em uma população inteira de personagens cuja semelhança com o compasso urbano moderno chega a impressionar. O enredo, deste modo, sustenta a exigência da matéria, veiculada numa prosa tão original quanto complicada. Formado de ciclos de variados graus de intensidade, o ritmo narrativo internaliza a velocidade característica da experiência social contemporânea. O assunto e o modo narrativo, juntamente com o narrador, armam uma estrutura decisiva para conduzir a um dos efeitos encobertos pela técnica empregada, desvelando um tipo de padrão interno da prosa que dita as seqüências das cenas e as suas motivações. Assim, tentaremos descrever a eficiência atingida pela combinação daqueles dois elementos, assunto e modo narrativo.

Bibliografia

BUENO, André (org). Literatura e Sociedade . Rio de Janeiro: 7Letras, 2006;

LINS, Paulo. Cidade de Deus. São Paulo: Cia das Letras, 1997;

OTSUKA, Edu Teruki. Marcas da Catástrofe -- Experiência urbana e Indústria Cultural em Rubem Fonseca , João Gilberto Noll e Chico Buarque . São Paulo: Nankin Editorial, 2001;

SCHWARZ, Roberto. Seqüências Brasileiras . São Paulo: Cia. das Letras, 1999.