O feminismo (in)evitável na literatura de Elena Ferrante: diálogos entre lutas reais e fictícias

Resumo

Este artigo se propõe a tensionar e extrapolar a literatura da escritora italiana Elena Ferrante, cuja extensa obra protagoniza mulheres com muitas semelhanças – mas também limitações – umas das outras, revelando, assim, intersecções com a realidade que possui complexidades por vezes nem sequer tangenciadas pela autora. Numa tentativa de construir uma interlocução autônoma, foram mobilizadas teóricas e ativistas feministas situadas em lugares não tão próximos das terras napolitanas de Ferrante. Para isso, além de realizar profunda leitura de todas as obras da autora publicadas em português até o presente, também se utilizou da produção de nomes como: bell hooks, Heleieth Saffioti, Zillah Eisenstein, María Lugones, Judith Butler, entre outres. Recorrendo principalmente aos seus livros de maior sucesso – a tetralogia napolitana –, foi feita uma análise ficcional e real acerca de Lila e Lenu, suas protagonistas que remetem, com frequência, a posicionamentos e ideologias feministas bastante identificáveis, ainda que a autora opte por deixar os debates políticos em segundo plano nas suas narrativas. A partir da trajetória das próprias personagens, foram trazidas formas outras de existência, re-existência e não-existência, considerando que negar também é uma possibilidade de existir.