Íntimas Memórias

Autores

  • Tiago Pedro UFRJ

Palavras-chave:

foto

Resumo

Técnica: Filme 35mm, revelado de forma positiva, preto e branco revelado pelo autor. Uma imagem colorida, de arquivo dos avós do autor, monóculos postos em uma mesa de luz.

Existe um tempo, analógico, que é o tempo da espera. A solenidade de tirar uma foto e de esperar por ela ser revelada, o prazer de ser presenteado ou fotografado e virar memória para o futuro, esses aspectos impregnam esses antigos objetos. 

Esses muitas vezes viravam relicários de memórias. Dentre eles, um ficou bem popular, principalmente no sertão do Cariri: os monóculos. 

Os monóculos, como instrumento visual, guardam as memórias íntimas. No Cariri, muitas vezes eram prova de que se cumpriu uma promessa, como visitar o horto do Padre Cícero, por exemplo. 

Esses objetos óticos guardam a fé, a graça alcançada, as memórias da família, a alegria e, principalmente, a saudade dos parentes. Objetos de prazer e objetos de saudade. Existe uma certa dor, boa, em lembrar. 

Aqui, apresento o prazer da nostalgia dos jovens que não viveram esse tempo, e, para os mais velhos, a memória íntima dos monóculos, objetos de ver, carregados de imagens pessoais, que exigem certo trato do olhar, eu e a imagem, e, nesse contrato visual, o encontro da saudade.  

Um aspecto especial dos monóculos é o mistério do encontro. O prazer da surpresa. Esses objetos exigem que o olhar se aproxime, a imagem fica fechada dentro do aparato, quase que como guardada dos olhares curiosos, se dá a ver somente quando nos aproximamos dela. 

É se aproximando da lente dos monóculos, pondo a imagem contra uma luz, que ela se descortina, e temos o gozo de ver o que estava escondido. De certa forma uma metáfora perfeita da memória, que somente é (memória) quando esquecemos e ela vem a tona novamente. Uma imagem em monóculos nos transporta a aquele lugar, pessoa, tempo... adentramos no universo da foto, que até então estava latente.  

Chamo a quem ver essas imagens, o prazer da descoberta da imagem íntima, a dor-prazer da saudade, a redescoberta do tempo das máquinas de esperar.

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Publicado

22-12-2023

Edição

Seção

Trabalhos visuais