GLOBALIZAÇÃO E PANDEMIA
Por Pedro Cláudio Cunca Bocayuva - Professor do PPDH/NEPP-DH/UFRJ
WUHAN e o Covid-19 não tem uma relação com o atraso mas com os fenômenos extremos que fazem interagir processos virais e processos virtuais. Mais do que uma metáfora ou uma representação temos um território produzido na onda longa da expansão chinesa. A megacidade tem o quadro social e ambiental da globalização no padrão ou na forma chinesa. Deve ser vista como expressão concentrada da arquitetura e do urbanismo, da verticalização, dominada pela velocidade.
Basta ver estas imagens para ver o gasto energético, pensar no consumismo, no design funcional ao capital e na verticalização, com os prováveis resíduos, disparidades sociais e ambientais. Imagem marcante da hipermodernidade do capitalismo mundial intensificado. Aquele que acelera um modo ou estilo de desenvolvimento ligado por redes e fluxos da circulação e conexão globalizada de capitais, pessoas/trabalho e mercadorias.
Não se trata da periferia mas do centro da rede global de cidades relacionada aos grandes projetos, eventos e forças corporativas. Um centro no extremo Oriente das forças que desafiam e redirecionam a centralidade do capitalismo Ocidental, com o declínio da liderança norte-america, mas que ao invés de causar deslumbramento deve nos lembrar os efeitos é ecolimites do desenvolvimento cego das forças produtivas e do neofordismo expandido.
A crise apresenta a face do excesso e da desmedida que exige uma reconversão superando o padrão norte-americano, uma ruptura com o neoliberalismo e uma transição dos padrões predatórios em direção a um novo paradigma de desenvolvimento social e ambiental, onde as escalas e as políticas se adequem a um giro crítico ( das três ecologias)no plano mental, social e ambiental.
O tema do biopoder ganha materialidade no desafio demográfico e existencial que deriva de uma crise que combina o esgotamento de um ciclo histórico do sistemas mundo capitalista, patriarcal e colonial, com a dimensão do excesso negativo no plano das 3 ecologias.
O deslizamento das guerras financeiras, da guerra civil para as catástrofes ligadas ao clima e ao quadro sanitário e epidemiológico abre uma nova conjuntura. O que exige uma mudança de paradigma que coloque em questão a desmaterialização, a desterritorializacao e a dimensão globalizada da modernidade líquida, promovida pelas fronteiras dilatadas que já tinham entrado em colapso por força dos movimentos, das dividas e fugas de pessoas e capitais que marcam a produção dos espaços que sustentam este tipo de arquitetura, uso e produção do espaço urbano globalizado. Os chineses estão começando a ter de buscar os meios para ir além da lógica autoritária e do determinismo tecnológico. Assim como nos EUA existe um questionamento que parte da questão do Health Care, com Sanders, na China com sua diversidade forças locais e regionais, profissionais e movimentos sociais já se manifestam.
No mundo da biossegurança e da bioética lidar com corpos, subjetividades é territórios depende do tema da democracia, que se relaciona diretamente com questão do bem-estar e da justiça social e ambiental como exigência do bom governo. O que vale para Maquiavel vale para Confúcio. O que vale para a China e os EUA vale para o Brasil. Na hora da pandemia os olhos se abrem e as vozes não se calam, as soluções são singulares mas sua conexão com as prioridades nacionais e globais são evidentes.
As questões globais são decisivamente estruturais ligando desigualdade, meio-ambiente, saúde, ecologia e os modos de governar, com as marcas da responsabilidade, do sentido público e da justiça social e ambiental. Direito ao desenvolvimento com bem-estar é a resposta estratégica para a construção de novos paradigmas que superem a rota destrutiva da globalização neoliberal e da guerra.