Memorias de esclavas mapuche en Mendoza, Argentina, décadas de 1880 y 1940
Resumo
Durante a chamada Campanha do Deserto na Argentina, entre 1878 e 1884, milhares de prisioneiros indígenas foram transferidos, distribuídos e escravizados em várias províncias do país. Embora esse processo tenha sido estudado sob diversas abordagens, sabemos muito pouco sobre a perspectiva dos povos indígenas que vivenciaram o processo. Em particular, não temos análise de depoimentos de presos que narram suas experiências no processo.
Neste artigo tentamos preencher uma pequena parte dessa lacuna reconstruindo duas biografias de mulheres indígenas presas e distribuídas em Mendoza, a partir das entrevistas que o antropólogo Carlos Rusconi realizou entre 1939 e 1943 com ex-prisioneiras ainda vivas, e que incluiu em na forma de comentários e fragmentos espalhados por sua vasta obra publicada.
O “mito do fim” dos povos indígenas na Argentina constituído na Campanha do Deserto tem a ver em parte com a lacuna autobiográfica: a escassez de memórias sobre trajetórias de vida individuais que captem a experiência de continuidade dos povos indígenas entre o período anterior e depois das campanhas militares, entre a vida nos territórios indígenas livres e a sua incorporação forçada na sociedade argentina. É por isso que é crucial reabastecer histórias ou trajetórias de vida individuais. Particularizar permite humanizar a experiência dos presos indígenas distribuídos, retirando-os de meras estatísticas ou bancos de dados, e também nos projetar na experiência de vida de protagonistas específicos da passagem entre sua presença e seu “desaparecimento”, permitindo-nos romper com maior força do que outras análises do senso comum ou do mito da extinção dos povos indígenas na Argentina.
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