Revista Mulemba, v. 16, n. 31 (jul.-dez. 2024)

Título do dossiê: A Poesia Moçambicana pós-2000: temas e problemas

 

Ementa:

Entre os renomados estudiosos da poesia moçambicana, Ana Mafalda Leite, ensaísta e poeta, define a produção poética moçambicana pós-2000 assim: “[...] a poesia é uma forma-abrigo, criada para compensar a desfasagem entre o eu e o mundo; a brecha criada entre ser e estar, entre o sujeito e a realidade social, permite ao poeta, homo faber, usar a palavra para criar um mundo alternativo, fazer-se matéria e cosmos verbal” (Leite, 2009, p. 17). Uma parte significativa dessa produção literária é marcada por um gesto de linguagem descentralizador. Alguns poetas escrevem sobre espaços marginais de cidades e regiões moçambicanas, não se restringindo apenas à capital Maputo. Eles refletem acerca da liquidez das fronteiras de Moçambique e deslocam os sentidos e as significações da matéria empírica e político-social.

Diante do cenário mundial de globalização tecnológica e econômica, do crescimento do neoliberalismo, da aceleração das atuais dinâmicas capitalistas, sociais e comportamentais, do fim da Guerra de 16 anos em Moçambique e da agitação do mercado-leitor, levantam-se vozes poéticas moçambicanas denunciando muitas dessas questões, repensando ideologias dominantes e certas posições consolidadas do sujeito no mundo. Ademais, com a criação da Associação Movimento Literário Kuphaluxa em 2009 e da revista Literatas em 2011, com a instituição de diversos prêmios literários, com o crescimento de publicações por parte de várias editoras moçambicanas e de produções poéticas individuais e com a realização de inúmeros eventos literários, torna-se bastante rico o panorama da poesia moçambicana dos anos 2000-2024.

Tendo em vista essa efervescência produtiva, este dossiê convida a pensar acerca dos múltiplos fios que costuram a filigrana poética pós-2000 em Moçambique. Sendo assim, o número 31, volume 17, da Revista Mulemba receberá trabalhos sobre: a herança de outras gerações de escritores moçambicanos no cenário da poesia de Moçambique do século XXI; a produção poética de mulheres; as manifestações da Poetry Slam; a reflexão dos sujeitos líricos acerca de si em contraste com o desenvolvimento do capitalismo tecnológico-financeiro transnacional e das temporalidades disruptivas; a performance poética e o diálogo interartes; a relação com as novas tecnologias midiáticas; as dinâmicas do campo editorial.

 

Palavras-chave: literatura moçambicana; contemporaneidade; poesia; campo editorial.