Gênero em um mundo financeirizado: como o sistema de previdência chileno atua na reestruturação do trabalho feminino
Palavras-chave:
Gênero, reforma da previdência, financeirização, ChileResumo
Na região latino-americana, as reformas da previdência foram centrais no conjunto dos reajustes neoliberais e um motor fundamental do processo de financeirização. A reforma chilena, ocorrida em 1980, foi a primeira estrutural da região e resultou em uma série de efeitos regressivos para os trabalhadores. Neste cenário, as mulheres, maior categoria em ocupações informais, flexíveis e precarizadas, foram especialmente afetadas pelas mudanças na previdência. O presente trabalho busca compreender a relação entre o gênero, enquanto uma categoria analítica e enquanto uma estrutura social, e o sistema de previdência de capitalização individual, em um contexto de financeirização. Especialmente, busca-se analisar a relação entre a implementação do regime de capitalização individual e a precarização do trabalho feminino, tanto produtivo quanto reprodutivo. Busca-se também destacar os diferentes efeitos de gênero que as políticas econômicas têm, e, portanto, a urgência da integração destas categorias ao desenvolvimento destas. Como resultado, encontra-se que o sistema de previdência chileno tem de fato efeitos de gênero. Primeiramente destacam-se as assimetrias de gênero na sua estruturação que levam ao gap de gênero no acesso à aposentadoria e recebimento das pensões. Mais profundamente, o sistema de previdência, ao aprofundar o processo de financeirização da economia chilena, tem atuado em intensificar e precarizar o trabalho feminino.
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