Gênero em um mundo financeirizado: como o sistema de previdência chileno atua na reestruturação do trabalho feminino

Autores/as

Palabras clave:

Gênero, reforma da previdência, financeirização, Chile

Resumen

Na região latino-americana, as reformas da previdência foram centrais no conjunto dos reajustes neoliberais e um motor fundamental do processo de financeirização. A reforma chilena, ocorrida em 1980, foi a primeira estrutural da região e resultou em uma série de efeitos regressivos para os trabalhadores. Neste cenário, as mulheres, maior categoria em ocupações informais, flexíveis e precarizadas, foram especialmente afetadas pelas mudanças na previdência. O presente trabalho busca compreender a relação entre o gênero, enquanto uma categoria analítica e enquanto uma estrutura social, e o sistema de previdência de capitalização individual, em um contexto de financeirização. Especialmente, busca-se analisar a relação entre a implementação do regime de capitalização individual e a precarização do trabalho feminino, tanto produtivo quanto reprodutivo. Busca-se também destacar os diferentes efeitos de gênero que as políticas econômicas têm, e, portanto, a urgência da integração destas categorias ao desenvolvimento destas. Como resultado, encontra-se que o sistema de previdência chileno tem de fato efeitos de gênero. Primeiramente destacam-se as assimetrias de gênero na sua estruturação que levam ao gap de gênero no acesso à aposentadoria e recebimento das pensões. Mais profundamente, o sistema de previdência, ao aprofundar o processo de financeirização da economia chilena, tem atuado em intensificar e precarizar o trabalho feminino.

Biografía del autor/a

Patrícia Fonseca Ferreira Arienti, Universidade Federal de Santa Catarina/Professora

Possui graduação em Economia pela Universidade Candido Mendes (1985), mestrado em Latin American Studies – University of London (1989) e doutorado em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Federal do Paraná (2004). Atualmente é professora adjunta – Departamento de Economia e Relações Internacionais (UFSC) e professor adjunto da Universidade Federal de Santa Catarina. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Política Internacional, atuando principalmente nos seguintes temas: economia política internacional, fundos soberanos, economia brasileira e a relação com a China, hegemonia do dólar e a relação entre Mercado, Estado e Instituições. Pesquisadora do INCT-INEU.

Amanda Krein Antonette, Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina/Doutoranda

Doutoranda em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Santa Catarina. Bolsista PDPG/CAPES.

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Publicado

2023-12-29