PRÁTICAS ANTICAPACITISTAS NAS UNIVERSIDADES: UMA RESPONSABILIDADE COLETIVA
Palavras-chave:
Acessibilidade, Capacitismo, Ensino Superior, Acesso Libertador, Formação Anticapacitista.Resumo
Este artigo tem por objetivo dialogar com os profissionais do ensino superior no que se refere à importância da construção de práticas anticapacitistas que efetivamente transformem as instituições de ensino. Para tanto, serão trabalhados importantes conceitos para o campo da acessibilidade e dos Estudos sobre Deficiência, como o capacitismo (MELLO, 2016), a fadiga de acesso (KONRAD, 2021) e o acesso libertador (MINGUS, 2017). Além disso, compartilharemos algumas experiências que desenvolvemos na universidade de cursos de extensão voltados para a formação de servidores públicos atuantes no ensino superior. Tais experiências permitiram a criação de cinco pistas para desenvolvermos práticas anticapacitistas nas instituições de ensino, que serão compartilhadas neste artigo. O referencial metodológico utilizado foi o do pesquisarCOM (MORAES, 2022), que nos permite apostar nos encontros com a deficiência, o que inclui a sustentação de dissensos e atenção aos riscos de operarmos como vetores de opressão nos dispositivos de pesquisa. Tal ferramenta também possibilita que outras histórias da deficiência sejam contadas, que não apenas aquelas que reforçam a narrativa biomédica capacitista neoliberal. Defendemos também que o capacitismo é estrutural e estruturante e que as lutas anticapacitistas não devem estar desatreladas da luta anticapitalista. Concluímos com a defesa da importância de produzirmos um acesso libertador (MINGUS, 2017), compreendendo que a acessibilidade deve ser uma responsabilidade coletiva. O direcionamento ético-político defendido é o da produção de uma acessibilidade que liberte e que produza conexões e não mais silencie e isole as pessoas com deficiência.
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