ACESSIBILIDADE NA UNIVERSIDADE: UMA DIRETRIZ ÉTICO-POLÍTICA PARA A FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA

Autores

Palavras-chave:

Acessibilidade, Universidade, Deficiência, Formação, Psicologia

Resumo

O ingresso de estudantes com deficiência na universidade pública, por meio do sistema de cotas (Lei 13.409, de 2016) tem sido ao mesmo tempo um desafio e uma grande oportunidade para que seja feita uma avaliação e uma autocrítica das políticas de formação acadêmica. O objetivo do presente artigo é discutir a acessibilidade na universidade como uma diretriz ético-política da formação em psicologia. Para isso buscamos definir o que entendemos por deficiência, analisando os diferentes modelos e suas implicações ético-políticas: o modelo biomédico, o modelo social, o modelo feminista e a Teoria Crip. Estes últimos ganham relevo para a discussão de estratégias de formação (ensino, pesquisa e extensão) desenvolvidas no Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tendo em vista produzir deslocamentos na formação capacitista, em favor de uma formação marcada por uma dimensão ético-política que afirma a potência do encontro com o outro na diferença e sensibiliza o estudante de psicologia para a importância da criação de um mundo comum e heterogêneo.

Biografia do Autor

Raquel Guerreiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Doutora em Psicologia Social e Institucional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Psicóloga clínica e professora substituta no Departamento de Psicologia Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Beatriz Sancovschi, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Doutora em Psicologia (PPGP-UFRJ), Professora Associada II do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Professora do Programa de Pós Graduação em Psicologia da UFRJ.

Camilo Venturi, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Doutor em Saúde Coletiva (IMS-UERJ), Professor Associado do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Suas pesquisas investigam formas de sofrimento psíquico da atualidade e suas relações com a cultura e a sociedade.

Virgínia Kastrup, Universidade Federal do Rio de Janeiro


Doutora em Psicologia Clínica (PUC-SP), Professora Titular do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e bolsista PQ do CNPq na área de psicologia cognitiva. Suas pesquisas se articulam em torno do problema da invenção, com desdobramentos sobre a aprendizagem, a atenção, a arte, a deficiência visual e o método da cartografia.

Referências

ANGELUCCI, C. B.; SANTOS, L. S.; PEDOTT, L. G. O. “Conhecer é transformar: notas sobre a produção implicada de modos anticapacitistas de habitar a universidade”. In: M. GESSER; G. L. K. BOCK; P. E. LOPES (Org) Estudos da deficiência: anticapacitismo e emancipação social. Curitiba: CRV, 2020.

DAVIS, L.J. Constructing Normalcy: The Bell Curve, the Novel, and the Invention of the Disabled Body in the Nineteenth Century. In: DAVIS, Lennard J. (Org.). The Disability Studies Reader. Nova Iorque: Routledge, 2010, p. 03-16.

DINIZ, D. Modelo social da deficiência: a crítica feminista. Série Anis, v. 28, p. 1-8, jul.2003

DINIZ, D. O que é deficiência. São Paulo: Editora Brasiliense, 2007.

FREIRE, P. Educação “bancária” e educação libertadora. Introdução à psicologia escolar, v. 3, p. 61-78, 1997

GAVERIO, M. A. Nada sobre nós, sem nossos corpos! O local do corpo deficiente nos disability studies. Revista Argumentos, v. 14, p. 95-117, 2017.

GESSER, M.; MORAES, M. O. BOCK, G. L. K. Ensino, pesquisa e extensão no campo da deficiência: práticas emencipatórias. In: M. GESSER; G. L. BLOCK; P. H. LOPES (Org.). Estudos da deficiência: anticapacitismo e emancipação social. Curitiba: CRV, 2020.

GIROTO, C.R.M., POKER, R.B., OMOTE, S. (orgs.). As tecnologias nas práticas pedagógicas inclusivas. Marília: Oficina Universitária. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012.

KAFER, A. Feminist, queer, crip. Bloomington: Indiana University Press, 2013.

KASTRUP, V. A invenção de si e do mundo. Campinas: Papirus, 1999.

KASTRUP, V.; POZZANA, L. Histórias de cegueiras. Curitiba: CRV, 2016.

KASTRUP, V. Cegueira e invenção: cognição, arte, pesquisa e acessibilidade. Curitiba: CRV, 2018.

KASTRUP, V.; POZZANA, L. Encontros com a deficiência na universidade: deslocando o capacitismo em oficinas de formação inventiva. Mnemosine, v.16, 33 - 52, 2020.

KITTAY, Eva Feder. The ethics of care, dependence, and disability. Ratio Juris, v. 24, n. 1, p. 49-58, 2011.

MAGNABOSCO, Molise de Bem; SOUZA, Leonardo Lemos de. Aproximações possíveis entre os estudos da deficiência e as teorias feministas e de gênero. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 27, n. 2, e56147, 2019.

MANZINI, E.J. Formação do professor para o uso de tecnologia assistiva. Cadernos de Pesquisa em Educação - PPGE/UFES 13, Vitória, ES, a. 9, v. 18, n. 36, p. 11-32, jul./dez. 2012a.

MANZINI, E.J. Formação do professor para trabalhar com recursos de tecnologia assistiva: um estudo de caso em Mato Grosso. Educação e Fronteiras On-Line, Dourados/MS, v.2, n.5, p. 98-113, maio/ago. 2012b.

MATURANA, H.; VARELA,F. A árvore do conhecimento. Campinas-SP: Editorial Psy II, 1995.

McRUER, Robert. Compulsory able-bodiedness and queer/disabled existence. 2002. Disponível em: https://www.ces.uc.pt/projectos/intimidade/media/Compulsory%20AbleBodiedness%20and%20Queer_Disabled%20Existence.pdf.

McRUER, Robert. Teoría Crip: signos culturales de lo queer y de la discapacidad. Madrid:

Kaótica Libros, 2021.

MELLO, A. G. Deficiência, incapacidade e vulnerabilidade: do capacitismo ou a preeminência capacitista e biomédica do Comitê de ética em Pesquisa da UFSC. Ciência e saúde coletiva, v.21 n.10, 2016, pp. 3265-3276.

MORAES, M.; MARTINS, B. S., FONTES, F. e MASCARENHAS, L. T. Deficiência em questão: para uma crise da normalidade. Rio de Janeiro: Nau/FAPERJ, 2017.

OLIVER, M. 1990. The politics of disablement. Londres: Macmillan Education.

POZZANA, L.; KASTRUP, V. Formação em psicologia e saúde mental na atualidade: uma oficina de corpo e um caderno coletivo como dispositivos experimentais. Mnemosine, v.15, p.89 - 114, 2019.

PASSOS, Eduardo et al. Autonomia e cogestão na prática em saúde mental: o dispositivo da gestão autônoma da medicação (GAM). Aletheia, Canoas, n. 41, p. 24-38, ago. 2013

SANCOVSCHI, B; ROCHA, J.M. Oficinas de arte como espaços de aprendizagem: o que isto significa?. Revista Interinstitucional Artes de Educar, [S. l.], v. 9, n. 1, p. 388–403, 2023. DOI: 10.12957/riae.2023.65577.

SHAKESPEARE, T. The Social Model of Disability. In: DAVIS, Lennard J. (Org.). The Disability Studies Reader. Nova Iorque: Routledge, 2010, p. 266-273.

SILVEIRA, Raquel da Silva; GUERREIRO, Raquel; GOMES, Leandro Peratz. Por uma universidade mais diversa: a política de cotas para pessoas com deficiência e a extensão universitária. Interfaces - Revista de Extensão da UFMG, Belo Horizonte, v. 9, n. 1, p. 22-39, jan./jun. 2021

SKLIAR, Carlos. Pedagogia (improvável) da diferença: E se o outro não estivesse aí?. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

VARELA, F.; THOMSON, E.; ROSCH, E. A mente incorporada: ciências cognitivas e experiência humana. Porto Alegre: Artmed, 2003.

UPIAS (Union Of The Physically Impaired Against Segregation). Fundamental Principles, 1975. Disponível em https://disability-studies.leeds.ac.uk/wp-content/uploads/sites/40/library/UPIAS-fundamental-principles.pdf (Acessado em 22 de agosto de 2023).

Downloads

Publicado

2024-09-11

Edição

Seção

Artigo