O SILENCIAMENTO E A CONSTRUÇÃO DE NOVAS MEMÓRIAS PELO DISSENSO NAS MÍDIAS
DOI:
https://doi.org/10.61358/policromias.v5i3.37788Keywords:
Michel Pêcheux, Análise do discurso, Silenciamento, MídiaAbstract
Este artigo discute os discursos produzidos pela mídia sobre um mesmo acontecimento histórico e sobre como a ancoragem em posições-sujeito diversas pode levar ao dissenso. Para tanto, analiso a cobertura jornalística sobre a prisão de Lula em veículos da grande mídia e da mídia alternativa. O objetivo é analisar quais aspectos foram escolhidos pelos veículos midiáticos para se transformarem em notícia na data da prisão de Lula, em 7 de abril de 2018. Interessa questionar o que mobilizou os veículos a divulgarem determinadas informações e a silenciarem outras. Foram selecionadas sequências discursivas das páginas de Jornal Nacional e Mídia Ninja no Facebook. Para realizar a análise, falarei de silenciamento e memória no discurso jornalístico, recorrendo, principalmente, a Michel Pêcheux, Jean-Jacques Courtine, Eni Orlandi e Freda Indursky. O jogo entre memória, esquecimento e silenciamento na discursivização dos acontecimentos expõe que a grande mídia silencia o diferente, as posições-sujeito que não são dominantes numa formação discursiva. Assim, a mídia alternativa põe em xeque os consensos regularizados no interdiscurso, trazendo o dissenso e constituindo a resistência dentro do Aparelho Ideológico da Informação.References
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