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A commedia na música religiosa: kyries como ouvertures em três missas de José Maurício Nunes Garcia

Abstract

Na cultura musical luso-brasileira, a adesão aos princípios napolitanos chegou por dois caminhos: o gosto operístico da Coroa e, de forma interligada, o modelo de ensino do Seminário da Patriarcal, a mais importante escola de música religiosa do Império Português. Usando as palavras de Scheibe, a música portuguesa era italianizada. Diversos sintomas apresentam as dificuldades que se tinha para encontrar consenso numa época de profundas transformações na relação do mundo religioso com o secular. No imaginário iluminista, a única música possível era a que formava cânone a partir de Pergolesi. O objetivo desse texto é através de três Kyries de missas-cantatas de José Maurício Nunes Garcia (Missa de Nossa Senhora da Conceição; Missa Pastoril e Missa de Santa Cecília) discutir a consciência do compositor em relação a modelos de discurso musical associados ao estilo eclesiástico e o galante, bem como a “mescla de gênero” (Mischmasch) advinda da música italiana (diga-se napolitana) e de compositores italianizados. Ademais, tratar de demonstrar como o trânsito entre os dois campos – eclesiástico e teatral – chegou a tal ponto que um Kyrie passou a ter uma função de abertura de ópera, ou seja, a de introduzir o sentido afetivo do ato, no caso, o próprio ato litúrgico. Como problema secundário, o texto trata de expor o domínio de José Maurício da escrita tópica. Na trama de seus discursos emerge o domínio dos esquemas tópicos correntes na música europeia que o legitimavam como músico cortesão. Trata-se sobretudo de um texto sobre a retórica de um mestre de capela conjugando as forças de sua presença reinol, e mestiça, numa corte no exílio.

Keywords

Música luso-brasileira, período colonial brasileiro, música religiosa, Escola Napolitana, retórica musical, tópica musical, José Maurício Nunes Garcia

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