Chamada para o dossiê: BRICS e a emergência do Sul Global
Elias Jabbour, Lourdes Regueiro e Wagner Iglecias (organizadores)
Esta edição da Reoriente propõe-se a abordar dois temas inter-relacionados de suma atualidade, tanto no debate acadêmico quanto no político: o Sul Global e os BRICS. A intenção da coordenação deste número é cobrir a maior diversidade de dimensões e perspectivas do debate sobre esses dois temas.
Com esse propósito, a revista estende um convite a pesquisadores, professores, analistas internacionais, estudantes, ativistas sociais e políticos para contribuírem com artigos que explorem, a partir de diversas disciplinas e enfoques, as múltiplas dimensões que atualmente acompanham o debate sobre os BRICS e a emergência ou reemergência do Sul Global. Este convite tem a intenção de incentivar/promover o diálogo crítico e plural, fornecendo argumentos sólidos e documentados que sirvam de base para o posicionamento político sobre o Sul Global e os BRICS.
Em uma ordem internacional caracterizada e historicamente assentada na profundização das desigualdades, os BRICS emergiram como um espaço de resistência à unipolaridade e ao atlantismo liderados pelos Estados Unidos, retomando bandeiras do espírito de Bandung e impulsionando o Sul Global como espaço geopolítico de cooperação, alianças e alavanca para a comunidade de destino da humanidade. Seu papel evoluiu para assumir dimensões cada vez mais propositivas de reforma dos organismos internacionais e de delineamento dos traços fundamentais de uma nova ordem e sistema mundial, com forte vinculação ao multilateralismo. Essa tendência está ligada a processos profundos que atuam na economia mundial: o colapso da hegemonia global do poder estadunidense e seu abandono do imperialismo informal em favor do imperialismo tout-court; o surgimento do caos sistêmico e do impasse catastrófico, que estabelecem necessidades, ameaças e possibilidades para a recriação da ordem mundial; a emergência da China, Rússia e Índia como potências dinâmicas, oferecendo novas oportunidades para a cooperação Sul-Sul; a competição estratégica entre as velhas potências e as forças em ascensão, possibilitando novos alinhamentos, alianças e espaços para redefinir os vínculos internacionais e os sistemas de poder em diferentes regiões; a ampliação dos BRICS na América Latina e na África, espaços dominados principalmente por relações de dependência, mas que já contam com Brasil, África do Sul, Egito e Etiópia entre os membros plenos dos BRICS.
A pergunta transcendental é: Qual poderá ser o papel dos BRICS e do Sul Global, ou da Nova Maioria, como preferem os russos, no cenário geopolítico do século XXI? As respostas tentativas a essa interrogação devem levar em consideração os principais traços da crise, tendências e disputas no sistema-mundo contemporâneo; as possibilidades, limites e contradições dos BRICS como organização e do Sul Global como projeto geopolítico; e as resistências que o imperialismo estadunidense, o atlantismo e suas relações de poder internacionais possam oferecer.
Partindo dessa preocupação, sugerimos a apresentação de trabalhos que considerem um ou mais dos seguintes temas:
- Os conceitos de Sul Global e Nova Maioria: origens, debates e dimensões teóricas, geopolíticas e históricas;
- Rumo a uma nova economia política no Sul Global? Estado, capital, trabalhadores e padrão de acumulação;
- O Sul Global e os processos migratórios: respostas às resistências e tensões nos países imperialistas;
- O Sul Global e o socialismo: experiências históricas, desafios e utopias;
- BRICS e o Sul Global: dimensões regionais e globais da construção de poderes;
- BRICS e os organismos internacionais: propostas de reforma e desafios da construção de uma nova governança global;
- BRICS e o clima: desenvolvimento, transição energética e a crise ecológica mundial;
- BRICS e as novas tecnologias: paradigmas tecnológicos, sistemas de inovação e competição estratégica;
- BRICS e o caos sistêmico: como garantir a paz global diante da ameaça de uma terceira guerra mundial?
- BRICS e o sistema-mundo: rumo a novas hegemonias e imperialismos, ou multipolaridade e novo sistema mundial?
- BRICS e a cooperação nas relações internacionais: as relações Sul-Sul e o objetivo de uma comunidade de destino compartilhado;
- BRICS e a geopolítica: perspectivas, contradições, resistências e desafios da ampliação dos BRICS;
- BRICS e a finança global: desdolarização, estabelecimento de um novo padrão monetário mundial e criação de uma nova arquitetura financeira global;
- Sul Global, BRICS e suas relações com o Norte Global: tensões, contradições, conflitos e cooperação; e
- BRICS e os processos sociais e políticos: soberania, resistências, anti-imperialismo, poder popular, democracia e direitos humanos.
Prazo para submissão: 1º de julho de 2025
Organizadores: Elias Jabbour, Lourdes Regueiro y Wagner Iglecias
Normas de submissão:
https://revistas.ufrj.br/index.php/reoriente/about/submissions