(Re)pensando a infância na atenção primária em saúde: uma narrativa dos sonhos e tropeços da terapia ocupacional nesse nível assistencial/Rethinking about childhood in primary health care: a narrative of the dreams and struggles of occupational therapy at the basic health services
DOI:
https://doi.org/10.47222/2526-3544.rbto41851Palavras-chave:
Terapia Ocupacional na Atenção Primária à Saúde. Saúde da Criança. Desenvolvimento Infantil. Criança.Resumo
Resumo
Introdução: Tradicionalmente, as ações de cuidado da infância na Atenção Primária à Saúde (APS) são orientadas por abordagens higienistas, eugênicas e biomédicas. Essas premissas também têm influenciado as ações de terapia ocupacional junto à infância nesse nível assistencial. O artigo reflete sobre a necessidade e as possibilidades de inserir as ações da terapia ocupacional em propostas que considerem o conceito de infância como norteador, uma vez que o mesmo é complexo, histórico, sociocultural e estrutural na sociedade. Objetivo: Compreender a natureza das ações de terapia ocupacional desenvolvidas pelo Laboratório de Estudos em Reabilitação e Tecnologia Assistiva – REATA – da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, na APS, voltadas à infância. Método: Trata-se de pesquisa qualitativa, de caráter exploratório analítico, que utilizou, como fonte de dados documental, os registros produzidos pelo Laboratório REATA, entre os anos de 2008 e 2020, cujos conteúdos foram analisados à luz do conceito de infância. Resultados e discussão: Implementou-se ações de terapia ocupacional na UBS de formação continuada, matriciamento, atendimentos individuais, em grupo, e intersetoriais, por 12 anos. Dentre as 150 crianças atendidas, apenas 12 foram encaminhadas a outros serviços, explicitando a resolutividade da APS. Muitos desafios foram encontrados na construção das ações voltadas às crianças e suas famílias, além da ressignificação das ações de terapia ocupacional, em direção à superação da ideia do déficit e da correção dos corpos, na direção da observação da infância e do lúdico. Conclusão: Ainda é necessário desconstruir um ideário de reabilitação médico-centrado e hospitalocêntrico vigente na APS.
Palavras-chave: Terapia Ocupacional. Atenção Primária à saúde. Saúde da Criança. Bem-estar.
Abstract
Introduction: Traditionally, childhood care actions in Primary Health Care (PHC) have been guided by hygienist, eugenic and biomedical approaches. These assumptions have also influenced occupational therapy actions with children at this care level. This article reflects on the need and possibilities of inserting occupational therapy actions in proposals that consider the concept of childhood as a guide, since it is complex, historical, socio-cultural and structural in society. Objective: Understanding the nature of occupational therapy actions developed by Laboratory of Studies in Rehabilitation and Assistive Technology – REATA – School of Medicine, University of São Paulo in PHC aimed at childhood. Method: This is a qualitative research, with an exploratory analytical character, which used as a source of documentary data the records produced by REATA Laboratory between 2008 and 2020, whose contents were analyzed in light of the concept of childhood. Results and discussion: Occupational therapy actions were implemented at the PHC service for continuing education, matrix support, individual, group and intersectorial care for 12 years. Among the 150 children assisted, only 12 were referred to other services, explaining the resolution of the PHC. Many challenges were found in the construction of actions aimed at children and their families, in addition to the redefinition of occupational therapy actions, concerning overcoming the idea of deficit and the correction of bodies, towards the observation of childhood and playfulness. Conclusion: It is still necessary to deconstruct the current medical-centered and hospital-centered rehabilitation ideals in PHC.
Keywords: Occupational Therapy. Primary Health Care. Child Health. Childhood Welfare.
Resumen
Introducción: Tradicionalmente, las acciones de atención a la infancia en la Atención Primaria de Salud (APS) se guían por enfoques higienistas, eugenésicos y biomédicos. Estos supuestos también han influido en las acciones de terapia ocupacional con niños en este nivel de atención. El artículo reflexiona sobre la necesidad y posibilidades de insertar acciones de terapia ocupacional en propuestas que consideren el concepto de infancia como guía, por ser complejo, histórico, sociocultural y estructural en la sociedad. Objetivo: Comprender la naturaleza de las acciones de terapia ocupacional desarrolladas por el Laboratorio de Estudios en Rehabilitación y Tecnología de asistencia - REATA - Facultad de Medicina, Universidad de São Paulo en APS dirigidas a niños. Metodo: Se trata de una investigación cualitativa, de carácter analítico exploratorio, que utilizó como fuente de datos documentales los registros producidos por el Laboratório REATA entre 2008 y 2020, cuyos contenidos fueron analizados a la luz del concepto de infancia. Resultados y discusión: Se implementaron acciones de terapia ocupacional en la UBS para educación continua, apoyo matricial, atención individual, grupal e intersectorial durante 12 años. De los 150 niños atendidos, solo 12 fueron derivados a otros servicios, explicando la resolución de la APS. Numerosos desafíos se encontraron en la construcción de acciones dirigidas a los niños y sus familias, además de la redefinición de las acciones de terapia ocupacional, hacia la superación de la idea de déficit y la corrección de cuerpos, hacia la observación de la infancia y la alegría. Conclusión: Todavía es necesario deconstruir los ideales actuales de rehabilitación centrada en la medicina y en el hospital en la APS.
Palabras clave: Terpia Ocupacional. Atención Primaria de Salud. Salud Infantil. Bienestar infantil.
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