Ocupações tradicionais e infâncias de terreiro: experiências de vida e cuidado em religiões de matriz africana/Traditional occupations and childhoods in the terreiro: life experiences and care in African-based religions

Autores

DOI:

https://doi.org/10.47222/2526-3544.rbto41874

Palavras-chave:

Ocupações tradicionais. Infância. Povos de terreiro. Comunidades. Terapia ocupacional.

Resumo

Introdução: Há distintas perspectivas sobre a infância. Assim, é necessário alargar os conhecimentos em Terapia Ocupacional a respeito dos cotidianos de crianças (Erês), sobretudo as de terreiro, que imprimem formas de envolvimento sagrado, baseado nas ocupações tradicionais, onde o dentro e o fora do terreiro possuem limites muito tênues. Objetivo: Compreender o envolvimento em ocupações tradicionais e os sentidos e implicações que estas exercem na vida cotidiana mais ampla de crianças de terreiro. Método: Foram conduzidas atividades dialogadas, durante o desenvolvimento de uma pesquisa qualitativa e exploratória em Terapia Ocupacional, com abordagem da pesquisa-participante, junto a sete crianças de um terreiro de candomblé na cidade de São Gonçalo, Rio de Janeiro, Brasil, entre outubro e novembro de 2016. Resultados: Foram produzidas atividades dialogadas, que facilitaram a produção de narrativas das crianças, sobre o cotidiano de terreiro. Um mural serviu de síntese das narrativas e identificação de quatro temas, que oportunizaram a discussão sobre ocupações tradicionais na infância, a saber: 1) Minha vida no terreiro; 2) Ser criança no terreiro; 3) Ser criança de terreiro fora do terreiro; e 4) O projeto Erê Yá L’omi. Discussão: Os temas destacam os sentidos de pertencimento, a construção identitária e as formas de lidar com as violências da intolerância religiosa na vida social mais ampla. Considerações finais: A tradição e a ancestralidade constituem elementos fundamentais do envolvimento ocupacional de crianças e jovens de terreiro. Este envolvimento se refere a uma tessitura intergeracional, pois estão intimamente coligadas à (re)existência e às funções e aprendizagens no terreiro.

Palavras-chave: Ocupações tradicionais. Infância. Povos de terreiro. Comunidades. Terapia Ocupacional.


Abstract
Introduction: There are different perspectives on childhood. Thus, it is necessary to expand the knowledge in Occupational Therapy regarding the daily lives of children (Erês), especially those in the terreiro, which print forms of sacred involvement, based on traditional occupations, where the inside and outside of the terreiro have very tenuous limits. Aim: To understand the involvement in traditional occupations and the meanings and implications that these have in the wider daily life of children in the terreiro. Method: Dialogue activities were conducted during the development of a qualitative and exploratory research in Occupational Therapy, with a participant-research approach, with seven children from a candomblé terreiro in the city of São Gonçalo, Rio de Janeiro, Brazil, between October and November 2016. Results: Graphic activities were produced that composed the children's narratives about the daily life of the terreiro. A mural served as a synthesis of the narratives and identification of four themes that made it possible to discuss traditional occupations in childhood, namely: 1) My life in the terreiro; 2) Being a child in the terreiro; 3) Being a child in a terreiro outside the terreiro; and 4) The Erê Yá L’omi project. Discussion: The themes highlight the senses of belonging, the identity construction and the ways of dealing with the violence of religious intolerance in the broader social life. Final considerations: Tradition and ancestry are fundamental elements of the occupational involvement of children and young people from the terreiro. This involvement refers to an intergenerational fabric, as they are closely linked to (re) existence and to the functions and learning in the terreiro.

Keywords: Traditional occupations. Childhood. Terreiro’s folk. Communities. Occupational Therapy.


Resumen

Introducción: Existen diferentes perspectivas sobre la infancia. Así, es necesario ampliar los conocimientos en Terapia Ocupacional sobre la vida cotidiana de los niños (Erês), especialmente los del terreiro, que imprimen formas de implicación sagrada, basadas en ocupaciones tradicionales, donde el interior y el exterior del terreiro tienen muchos límites tenues. Objetivo: Comprender la participación en las ocupaciones tradicionales y los significados e implicaciones que estas tienen en la vida cotidiana más amplia de los niños del terreiro. Método: Las actividades de diálogo se realizaron durante el desarrollo de una investigación cualitativa y exploratoria en Terapia Ocupacional, con un enfoque de investigación participante, con siete niños de un terreiro de candomblé en la ciudad de São Gonçalo, Rio de Janeiro, Brasil, entre octubre y noviembre 2016. Resultados: Se produjeron actividades gráficas que componían las narrativas infantiles sobre la vida cotidiana del terreiro. Un mural sirvió como síntesis de las narrativas e identificación de cuatro temas que permitieron discutir ocupaciones tradicionales en la infancia, a saber: 1) Mi vida en el terreiro; 2) Ser un niño en el terreiro; 3) Ser niño en un terreiro fuera del terreiro; y 4) El proyecto Erê Yá L’omi. Discusión: Los temas destacan los sentidos de pertenencia, la construcción de la identidad y las formas de abordar la violencia de la intolerancia religiosa en la vida social más amplia. Consideraciones finales: La tradición y la ascendencia son elementos fundamentales de la participación ocupacional de los niños y jóvenes del terreiro. Esta implicación se refiere a un tejido intergeneracional, ya que están estrechamente vinculados a la (re)existencia ya las funciones y aprendizajes en el terreiro.

Palabras clave: Ocupaciones tradicionales. Infancia. Pueblos de terreiro. Comunidades. Terapia ocupacional.

Biografia do Autor

Ellis Lopes Cordeiro, Centro de Estudos e Fisioterapia para Funcionalidade e Integração (CENEFFI) e Clínica TODOS.

Terapeuta ocupacional. Pós-graduada em saúde mental pelo Grupo Hospitalar Conceição. Trabalhadora do Centro de Estudos e Fisioterapia para Funcionalidade e Integração (CENEFFI) e Clínica TODOS. Porto Alegre, RS, Brasil.

 

Ricardo Lopes Correia, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Terapeuta Ocupacional formado pelo Centro Universitário São Camilo - SP. Professor Ajunto do Departamento de Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina e Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social - EICOS da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Doutor e Mestre em Ciências da Saúde/Saúde Coletiva pela Faculdade de Medicina do ABC. Especialização em Dependências, Abusos e Compulsões. Especialização em Projetos Sociais e Políticas Públicas. Especialização em Acessibilidade Cultural. Membro do Laboratório de Estudos sobre Políticas Públicas, Território e Sociedade, e do Laboratório de Memórias, Territórios e Ocupações: rastros sensíveis, ambos da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Desenvolve práticas e pesquisas em Terapia Ocupacional no Campo Social e interface com a cultura, sob abordagens em Desenvolvimento Local Participativo, Trabalho e Emprego, Gênero e arranjos comunitários.  Saúde Coletiva. Tesoreiro da Confederação Latinoamericana de Terapia Ocupacional - CLATO (2017-2019). Diretor de Comunicação da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa em Terapia Ocupacional - RENETO. Foi editor chefe (2015-2019) e atualmente editor de layout da Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional - REVISBRATO.

Samira Lima da Costa, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Terapeuta ocupacional. Mestra em Educação e Doutora em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social. Docente do Departamento de Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina e do Programa de Pós-Graduação em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social – EICOS da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Silvia Barbosa de Carvalho, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Psicóloga. Mestre em Ciências da Saúde. Doutora em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social. Psicóloga da Seção de Prevenção e Promoção da Saúde da Coordenação de Políticas de Saúde do Trabalhador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

 

Referências

Ariès, P. (1981). História social da criança e da família. Guanabara, 2 ª ed.

Brasil. Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. (2003). Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm

Brasil, Ministério da Saúde. Estatuto da Criança e do Adolescente. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/estatuto_crianca_adolescente_3ed.pdf.

Banjamin, W. (1994). O narrador. Magia e técnica, arte e política: Ensaios sobre literatura e história da cultura. 7ª ed. SP: Brasiliense, obras escolhidas, v.1, p. 197-221.

Caputo, S.G. (2007). Cultura e Conhecimento em Terreiros De Candomblé – lendo e conversando com Mãe Beata de Yemonjá. Revista Currículo sem Fronteiras,7 (2). https://www.curriculosemfronteiras.org/vol7iss2articles/caputo-passos.pdf

Caputo, S.G. (2012). Educação nos terreiros e como a escola se relaciona com crianças de candomblé. Pallas.

Cavas, C.D.S.T. & Neto, M.I.D'Á. (2015). Atravessando Fronteiras: um estudo sobre mães-de-santo e a 'África imaginada' nos terreiros de candomblé do Rio de Janeiro. Revista Latino-americana de Geografia e Gênero, 6(2), 52-70. http://doi.org/10.5212/Rlagg.v.6.i2.0004

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (2007). (40ª ed.). Saraiva.

Costa, S. L. da, Correia, R. L., & Faria, R. da S. de. (2021). Ocupações tradicionais e Terapia Ocupacional. In F. N. G. de Oliveira, B. A. Takeiti, & C. R. A. de Carvalho (Eds.), Terapia ocupacional, saberes e fazeres (1st ed., Vol. 1). Brazil Publishing. https://doi.org/10.31012/978-65-5861-381-7-24

Costa, S.L (2012). Terapia Ocupacional Social: dilemas e possibilidades da atuação junto a Povos e Comunidades Tradicionais. Cad. Ter. Ocup. UFSCar, 2(1), p. 44. http://dx.doi.org/10.4322/cto.2012.005.

Costa, S.L. (2016). Tradição, território e ocupação: construções teórico-metodológicas na perspectiva da pesquisa colaborativa interepistêmica. [Projeto de pesquisa, Universidade de Brasilia]. http://www.dan.unb.br/component/content/article/14-ppgas/146-colaboradores-pos-doutorado

Covre, M.D.L.M (1991). O que é Cidadania? Coleção Primeiros Passos. São Paulo-SP. Editora brasiliense.

Demo, P. (1995). Metodologia Científica em Ciências Sociais. São Paulo, Ed Atlas.

Dias, J.C.T. (2014). “Doce de Cosme e Damião: Considerações Sobre um Caso de Sincretismo”. Diálogos, (11). https://www.revistadialogos.com.br/Dialogos_11/pdf/Cosme_Damiao_julio.pdf

Filho, V.D.M. (2009). Estratégias de enfrentamento do povo de santo frente às crenças socialmente compartilhadas sobre o candomblé. [Dissertação de Mestrado, Universidade Federal da Bahia]. https://pospsi.ufba.br/sites/pospsi.ufba.br/files/valter_da_mata.pdf

França, M. M. L.; Queiroz, S. B. & Bezerra, W. C .(2016). Saúde dos povos de terreiro, práticas de cuidado e terapia ocupacional: um diálogo possível?. Cad. Ter. Ocup. UFSCar, 24 (1), 105-116. http://dx.doi.org/10.4322/0104-4931.ctoAO0583

Freire, P. (2004). Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo. Paz e Terra.

Godoy, A.S. (1995). Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades. Revista de Administração de Empresas, 35(2), 57-63. https://doi.org/10.1590/S0034-75901995000200008

Goldman, M. A. (1984). Possessão e a construção ritual da pessoa no candomblé. [Dissertação de Mestrado, Museu Nacional (UFRJ)].

Grosfoguel, R. (2006). La descolonización de la economia politica y los estúdios postcoloniales: Transmodernidad, pensamento fronteirizo y colonialidad global. Tabala Rasa, 4, 17-48. http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1794-24892006000100002&lng=en&nrm=iso

Grosfoguel, R. (2008). Para descolonizar os estudos da economia política e os estudos póscoloniais: transmodernidade, pensamento de fronteira e colonialidade global. Revista crítica de Ciências Sociais, 80, 115-147. https://doi.org/10.4000/rccs.697

Hall, S (2000). Quem precisa de identidade? In: Silva, Tomaz Tadeu da (org.) Identidade e Diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Vozes, 103-133.

Leite, V.F (2006). Candomblé e educação: dos ilês as escolas oficiais de ensino. [Dissertação de Mestrado, Universidade São Marcos].

Moriyama, I.N.H (2010). Crianças e adolescentes em abrigamento provisório – a perspectiva da terapia ocupacional. [Monografia, Universidade Federal de São Paulo].

Oliveira, A (2014). Corpo, Brincadeira e Aprendizagem entre Crianças de Candomblé. In: 29ª Reunião Brasileira de Antropologia.

Organização das Nações Unidas. (2013). Proclamação da década internacional dos povos afrodescendentes. Sexagésima oitava sessão. Item 67 da agenda – Eliminação do racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerâncias correlatas: a implementação completa da Declaração e do Programa de Ação de Durban. Original em inglês. Acessado em: https://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2015/07/N1362881_pt-br.pdf

Patriota, L.M (2002). Cultura, identidade cultural e globalização. Caos - Revista Eletrônica do Centro de Ciências Sociais, 1(4). http://dx.doi.org/10.18391/qualitas.v1i1.8

Pollak, M (1992). Memória e identidade social. Revista Estudos Históricos, 5(10), 200-212. http://www.pgedf.ufpr.br/memoria%20e%20identidadesocial%20A%20capraro%202.pdf

Pollak, M. (1989). Memória, esquecimento e silêncio. Estudos históricos, 2 (3), 3-15. https://www.uel.br/cch/cdph/arqtxt/Memoria_esquecimento_silencio.pdf

Prandi, R. (1991). Os candomblés de São Paulo: a velha magia na metrópole nova; HUCITEC: Editora da Universidade de São Paulo.

Prandi, R. (2001). O candomblé e o tempo: concepções de tempo, saber e autoridade da África para as religiões afro-brasileiras. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 16 (47), 43-58. https://doi.org/10.1590/S0102-69092001000300003

Ramugondo, E. L., & Kronenberg, F. (2015). Explaining Collective Occupations from a Human Relations Perspective : Bridging the Individual- Collective Dichotomy. Journal of Occupational Science, 22(1), 3–16. https://doi.org/10.1080/14427591.2013.781920

Santos, A.K.A.D. (2006). Infância e afrodescendente: epistemologia crítica no ensino fundamental. EDUFBA

Downloads

Publicado

08-11-2021