Shakespeare nas favelas: adaptando Romeu e Julieta para o cinema brasileiro

Auteurs-es

Mots-clés :

William Shakepeare, Romeu e Julieta, Adaptação, Antropofagia.

Résumé

Com base em recentes teorias sobre a adaptação de obras literárias para o cinema, este artigo tem como objetivo analisar duas versão fílmicas da peça Romeu e Julieta (1595-1596), de William Shakespeare, produzidas no Brasil durante a primeira década do século XXI. É minha intenção argumentar que os filmes analisados – Era uma vez... (Breno Silveira, 2008) e Maré nossa história de amor (Lúcia Murat, 2008) –, mais que adaptações culturais, são leituras antropofágicas da famosa tragédia shakespeariana. Nesse sentido, considero que é a partir da devoração transcultural do estranho/estrangeiro e de sua reconstrução como um outro, que os significados dos textos fímicos são construídos. Assim, é foco deste artigo a intenção de considerar os fatores socioculturais como centrais nos vários procedimentos desenvolvidos durante a adaptação dos filmes em questão.

Références

ABREU, N. C. 2006. Boca do lixo: cinema e classes populares. Campinas: Editora da UNICAMP.

AMORIM, M. A. de. 2016. Da tradução/adaptação como prática transcultural: um olhar sobre o Hamlet em terras estrangeiras. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ.

AMORIM, M. A. de. 2018. Da adaptação à transconstrução: antropofagia como uma metodologia translocal. Acta Scientiarum. Language and Culture, v. 40, n. 2, 01-12.

AMORIM, M. A. de. 2019. Devouring Shakespeare translocally. In: REFSKOU, A. S.; AMORIM, M. A. de.; CARVALHO, V. M. de. (Eds.). Eating Shakespeare: cultural anthropophagy as Global Methodology. London-New York: Bloomsbury Publishing. 136-154.

ANDRADE, O. 2009. Os dentes do dragão. São Paulo: Globo.

BAKHTIN, M. 2016. Os gêneros do discurso. Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34.

BELLEI, S. L. P. 1998. Brazilian anthropophagy revisited. In: BAKER, F.; HULME, P.; IVERSEN, M. Cannibalism and the colonial world. United Kingdon: Cambridge University Press. 87-109.

BHABHA, H. 1998. O local da cultura. Tradução de Myriam Ávila, Eliana Lourenço de Lima Reis e Gláucia Renate Gonçalves. Belo Horizonte: Editora da UFMG.

CAMPOS, H de. 2010a. Da razão antropofágica: diálogo e diferença na cultura brasileira. In: CAMPOS, H. de. Metalinguagem e outras linguagens. São Paulo: Perspectiva. 231-255.

CAMPOS, H de. 2010b. Da tradução como criação e como crítica. In: CAMPOS, H. de. Metalinguagem e outras linguagens. São Paulo: Perspectiva. 31-48.

CARVALHO, V. M. de. 2014. Diálogos em torno do Orfeu da conceição de Vinícius de Moraes. In: MACEDO, A. G.; SOUSA, C. M. de.; MOURA, V. As humanidades e as ciências: disjunções e confluências. Portugal: Húmus. 663-680.

DESMET, C. 2017. ‘Import/Export: Trafficking in Cross-Cultural Shakespearean Spaces’, Multicultural Shakespeare: Translation, Appropriation and Performance, 15 (30): 15–26.

HUTCHEON, L. 2006. A theory of adaptation. London; New York: Routledge.

KOTT, J. 2003. Shakespeare nosso contemporâneo. Tradução de Paulo Neves. São Paulo: Cosac & Naify.

MOREIRA, T. de. A. 2011. Representações audiovisuais sobre favelas do Rio de Janeiro. Espaço Aberto, V. 1, n. 2, 67-76.

OLIVEIRA, M. P. de. 2013. Cinema brasileiro contemporâneo e subalternidade: impasses da representação. Brasiliana – Jounal for Brazilian Studies, Vol. 2, n. 1, 124-141.

PERRONE-MOISÉS, L. 1990. Literatura comparada, intertexto e antropofagia. In: PERRONE-MOISÉS, L. Flores da escrivaninha. São Paulo: Companhia das Letras. 91-99.

RAMOS, F. 1987. Cinema Marginal (1968/1973): a representação em seu limite. São Paulo: Brasiliense.

REFSKOU, A. S.; AMORIM, M. A. de.; CARVALHO, V. M. de. (Eds.). 2019. Eating Shakespeare: cultural anthropophagy as Global Methodology. London-New York: Bloomsbury Publishing, 2019, p. 136-154.

ROCHA, R. F. da. 2003. Politics and Performance: Three Contemporary Productions of William Shakespeare’s Coriolanus. Tese de doutorado (Programa de Pós-Graduação em Inglês e Literaturas Correspondentes). Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina.

SANDERS, J. 2006. Adaptation and appropriation. London-New York: Routledge.

SANTIAGO, S. 2001. Latin American discourse: the space in-between. In: SANTIAGO, S. The space in-between: essays on Latin American culture. Edited by Ana Lúcia Gazola. Durham and London: Duke University Press. 25-38.

SHAKESPEARE, W. Romeu and Juliet. (The New Cambridge Shakepeare). Editado por G Blakemore Evans. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.

SILVA, M. V. B. 2011. Adaptação intercultural: o caso de Shakespeare no cinema brasileiro. Tese (Doutorado em Comunicação). Niterói: Universidade Federal Fluminense.

STAM, R. 2000. Beyond fidelity: the dialogics of adaptation. In: NAREMORE, J. (Org.). Film adaptation. New Jersey: Tutgers University. 54-76.

VELOSO, C. 2012. Antropofagia. São Paulo: Penguin Classics/Companhia das Letras.

VIVEIROS DE CASTRO, E. 2002. Perspectivismo e multinaturalismo na América Indígena. In: VIVEIROS DE CASTRO, E. A inconstância da alma selvagem. São Paulo, Cosac & Naif. 347-399.

VOLOCHINOV, V. N. 2017. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução, notas e glossário de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Editora 34.

XAVIER, I. PONTES, I. 1986. Cinema Brasileiro, os anos 70. In: MORAES, M. (Coord.) Perspectivas estéticas do cinema brasileiro: seminário. Brasília: Editora da Universidade de Brasília. 07-58.

Téléchargements

Publié-e

2021-07-21

Numéro

Rubrique

Artigos