A DIMENSÃO COLETIVA DA PROTEÇÃO DE DADOS PESSOAIS EM TEMPOS DE ACELERAÇÃO DA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA: A COMISSÃO DE REPRESENTANTES DE TRABALHADORES NA EMPRESA COMO INSTRUMENTO EMERGENTE

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21875/tjc.v6i0.44808

Palavras-chave:

Direitos coletivos, dados pessoais, mundo do trabalho, comissão de representação de trabalhadores na empresa.

Resumo

O estudo investiga a proteção jurídica de dados pessoais no âmbito das relações de trabalho, apresentando como hipótese a inserção da comissão de representantes de trabalhadores na empresa como instrumento para o manuseio político-jurídico do tema no cotidiano das relações laborais. Para isto, situa as mudanças no mundo do trabalho diante da reestruturação produtiva, das transformações tecnológicas e da plataformização que têm propiciado maior subsunção do trabalho ao capital por mecanismos de captura e tratamento de dados. Na sequência, difere o direito à privacidade do direito à proteção de dados, situando-o como um problema coletivo e atinente à eficácia da Lei Geral de Proteção de Dados. Por fim, analisa o enquadramento da representação de trabalhadores na empresa como sujeito promotor da proteção de dados pessoais, articulando dimensões macroestruturais com respostas no âmbito coletivo do direito trabalhista.

Biografia do Autor

Helena Martins, Universidade Federal do Ceará (UFC)

Doutora em Comunicação Social pela Universidade de Brasília (UnB, 2018), com período sanduíche no Instituto Superior de Economia e Gestão (Iseg) da Universidade de Lisboa, financiado pelo Programa de Doutorado-sanduíche no Exterior (PDSE) da Capes. É professora do curso de Comunicação Social - Publicidade e Propaganda da UFC, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFC, e editora da Revista EPTIC. Coordenadora do Telas - Laboratório de Pesquisa em Políticas, Tecnologia e Economia da Comunicação. Pesquisadora do GT Economía política de la información, la comunicación y la cultura da Clacso. Possui mestrado em Comunicação pela Universidade Federal do Ceará (UFC, 2012) e graduação em Comunicação Social - Jornalismo (2009) pela mesma universidade. Associada à ULEPICC Brasil (União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura). Atua principalmente nos seguintes temas: Economia Política da Comunicação; políticas de comunicação; mudanças tecnológicas e sociedade; proteção de dados pessoais; privacidade; vigilância. Foi titular do Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) na primeira gestão do órgão (2014-2016) e jornalista da Empresa Brasil de Comunicação (2012-2018).

Nael Neri de Souza Júnior, Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA)

Graduando em Direito pela Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA).

Talita de Fátima Pereira Furtado Montezuma, Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA)

Professora do Curso de Direito da Universidade Federal Rural do Semiárido. Doutora em Direito pela Universidade de Brasília. Graduada e Mestre em Direito pela Universidade Federal do Ceará. Membro do grupo de pesquisa e extensão Núcleo TRAMAS - Trabalho, Saúde, vinculado à Universidade Federal do Ceará. Membro do Instituto de Pesquisa Direito e Movimentos Sociais. Pesquisadora nos temas de conflitos socioambientais, mineração, águas, bens comuns e direitos humanos.

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Publicado

2022-02-04

Edição

Seção

Seção Especial: Dossiê "Direito e Tecnologia em um mundo orientado a dados"