A CONSTRUÇÃO JURISPRUDENCIAL DE UM DIREITO FUNDAMENTAL DE PROTEÇÃO DE DADOS: ANÁLISE DO VOLKSZÄHLUNSURTEIL E DOS SEUS REFLEXOS NA ADI 6.387

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21875/tjc.v6i0.44826

Palavras-chave:

Direitos fundamentais, Proteção de dados, Autodeterminação informativa, Análise de jurisprudência

Resumo

Antes mesmo da vigência da Lei Geral de Proteção de Dados, e sem referência constitucional expressa voltada à temática, o Supremo Tribunal Federal foi instado a se manifestar sobre a constitucionalidade da Medida Provisória 954, que previa o compartilhamento de dados pessoais de consumidores entre as empresas de telecomunicação e o IBGE, na ADI 6.387. Nesse julgamento, o tribunal admitiu a existência de um direito fundamental à proteção de dados. Essa decisão foi influenciada pela Volkszählunsurteil, decisão do Tribunal Constitucional Federal Alemão de 1983 e que reconheceu o direito à autodeterminação informativa. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho é, a partir de análise comparativa entre a Volkszählunsurteil e a ADI 6.387, estudar a construção jurisprudencial de um direito fundamental relacionado à proteção de dados e os reflexos da decisão alemã sobre a autodeterminação informativa na jurisprudência brasileira. Optou-se pelo método comparativo-funcional e, como técnicas de pesquisa, a pesquisa bibliográfica e documental em textos nacionais e estrangeiros. Embora o julgamento da ADI tenha sido por maioria, é possível inferir que a Constituição Federal certamente protege, em alguma medida, os dados pessoais, não havendo, porém, igual consenso em torno de qual o direito fundamental que enseja essa compreensão, tendo em vista que apenas 2 ministros reconheceram existir direito fundamental autônomo à proteção de dados.

Biografia do Autor

Anita Spies da Cunha, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Mestranda em Direito, vinculada ao Centro de Estudos Europeus e Alemães, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Graduada em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (2017). Vinculada ao núcleo de pesquisa de direito comparado e internacional.

Lisiane Feiten Wingert Ody, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Orientadora. Doutora em Direito e Mestre em Direito Privado. Professora Associada da Faculdade de Direito da UFRGS.

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Publicado

2021-12-30

Edição

Seção

Seção Especial: Dossiê "Direito e Tecnologia em um mundo orientado a dados"