Olhos que recusam, ou, é possível falar de religião na poesia de Carlos Drummond de Andrade?
Resumo
O presente ensaio propõe a leitura do poema “A máquina do mundo” (Claro Enigma), de Drummond, no qual o tema da pedra/objeto interceptante é retomado em perspectiva desencantada, e a “máquina do mundo” é recebida por olhos entediados, que declinam da sedução do misterioso objeto, já cantado por Dante e Camões. O que se deseja nessa leitura é pôr em manifesto certa inquietude própria do eu-lírico drummondiano, duvidoso de si, dos limites a si impostos e do mundo de signos no qual se insere, o que tem como consequência a incapacidade de manter a adesão a sistemas de sentido metafísico, tudo isso traduzido em “olhos incuriosos”, que negam a abertura do mistério quando ele se oferta generosamente. Como arcabouço teórico a nossa interpretação tomaremos as considerações do teólogo Paul Tillich, especialmente em seu livro “A teologia da cultura”, para quem o conceito de religião se confunde com o de cultura, na medida em que em ambos o que está em jogo é a expressão de uma preocupação última, ou um Incondicionado, que pode sim ser chamado de IAVHE, Tupã, Shiva, Buda, etc, mas não se confunde com essas circunscrições do mistério último. A conclusão a que chega o artigo é a de que há em Drummond uma recusa radical a esquemas explicativos ou metanarrativas, e, na perspectiva de Tillich, tal recusa ainda assim levanta questões religiosas, na medida em que essas são reflexos de um profundo mal-estar existencial.
Palavras-chave: Carlos Drummond de Andrade, Paul Tillich, A máquina do mundo.
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