Mística como espelhamento de si no além-mundo:
a narrativa visionária do Martírio de Perpétua e Felicidade
DOI:
https://doi.org/10.55702/3m.v28i55.62191Palavras-chave:
mística, subjetividade, visões apocalípticas, martírio, sonho oracularResumo
Neste artigo, perguntamo-nos pelo modelo de experiência mística que subjaz ao Martírio de Perpétua e Felicidade, uma narrativa em primeira pessoa das visões do além-mundo da jovem matrona cristã, Víbia Perpétua, antes de seu martírio junto a outros catecúmenos, em Cartago, em cerca de 204 d.C. Nos relatos, encontramos uma personagem que, diante da morte, desde sua posição liminar, visita o mundo do além – os céus e o mundo inferior – para interceder pelas pessoas e para contemplar a corte celeste. Esse modelo de mística não segue o padrão tradicional de mística entendida como conhecimento do sagrado transcendente que reverbera no interior do indivíduo. Antes, trata-se de uma mística em que o visionário se projeta no mundo com vistas à transformação, segundo o modelo da mística visionária apocalíptica. No relato do Martírio de Perpétua e Felicidade, no entanto, prevalecem as imagens concretas, as sensações físicas e as emoções. Nesse relato em primeira pessoa, o leitor antigo, em contextos rituais, era convidado a se unir ao “eu” narrativo e experimentava a transformação a partir das fronteiras do mundo dos mortos e dos vivos, em transições entre o macro e o microcosmo, nas inversões de gênero e de status social e religioso.
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