Mística como espelhamento de si no além-mundo:
a narrativa visionária do Martírio de Perpétua e Felicidade
DOI:
https://doi.org/10.55702/3m.v28i55.62191Palabras clave:
mística, subjetividade, visões apocalípticas, martírio, sonho oracularResumen
Neste artigo, perguntamo-nos pelo modelo de experiência mística que subjaz ao Martírio de Perpétua e Felicidade, uma narrativa em primeira pessoa das visões do além-mundo da jovem matrona cristã, Víbia Perpétua, antes de seu martírio junto a outros catecúmenos, em Cartago, em cerca de 204 d.C. Nos relatos, encontramos uma personagem que, diante da morte, desde sua posição liminar, visita o mundo do além – os céus e o mundo inferior – para interceder pelas pessoas e para contemplar a corte celeste. Esse modelo de mística não segue o padrão tradicional de mística entendida como conhecimento do sagrado transcendente que reverbera no interior do indivíduo. Antes, trata-se de uma mística em que o visionário se projeta no mundo com vistas à transformação, segundo o modelo da mística visionária apocalíptica. No relato do Martírio de Perpétua e Felicidade, no entanto, prevalecem as imagens concretas, as sensações físicas e as emoções. Nesse relato em primeira pessoa, o leitor antigo, em contextos rituais, era convidado a se unir ao “eu” narrativo e experimentava a transformação a partir das fronteiras do mundo dos mortos e dos vivos, em transições entre o macro e o microcosmo, nas inversões de gênero e de status social e religioso.
Citas
CONCEIÇÃO, Douglas R. Levar a mão sobre si: religião e literatura autobiográfica. In: Nogueira, P. A. S. (org.). Religião e linguagem: abordagens teóricas interdisciplinares. São Paulo: Paulus, 2015. p. 143-178.
HEFFERNAM, Thomas J. The passion of Perpetua and Felicity. Oxford: Oxford University Press, 2012.
HONGISTO, Leif. Experiencing the apocalypse at the limits of alterity. Leiden: Brill, 2010.
LOSSO, Eduardo; BINGEMER, Maria Clara; PINHEIRO, Marcus Reis (org.). A mística e os místicos. Petrópolis: Vozes, 2022.
MACHADO, Jonas. O misticismo apocalíptico do Apóstolo Paulo. São Paulo: Paulus, 2009.
MOSS, Candida. Ancient christian martyrdom. Diverse practices, theologies and traditions. New Haven/London: Yale University Press, 2012.
NEWSOM, Carol A. The self as symbolic space. Constructing identity and community at Qumran. Atlanta: Society of Biblical Literature, 2004.
NOGUEIRA, Paulo A. S. Religião e poder no cristianismo. São Paulo: Paulus, 2020.
NOGUEIRA, Sebastiana Maria. Viagens aos céus e mistérios inefáveis: a religião de Paulo de Tarso. São Paulo: Paulus, 2016.
ROWLAND, Christopher. The open heaven. A study of apocalyptic in judaism and early christianity. London: SPCK, 1082.
ROWLAND, Christopher; MORRAY-JONES, Christopher R. A. The mystery of God. Early jewish mysticism and the New Testament (Compendia Rerum Iudaicarum ad Novum Testamentum, volume 12). Leiden: Brill, 2009.
RUIZ BUENO, Daniel (ed.). Actas de los mártires. Texto bilingüe. 5ª edição. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 2003.
SCHÄFER, Peter. The origins of jewish mysticism. Princeton/Oxford: Princeton University Press, 2009.
SCHOLEM, Gershom. As grandes correntes da mística judaica. 3 edição revisada. São Paulo: Perspectiva, 1995.
Descargas
Publicado
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2024 Paulo Nogueira
Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución 4.0.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- a. Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- b. Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- c. Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).