Dos impasses da estética (esthethique)

Authors

  • Bruno Guimarães

DOI:

https://doi.org/10.55702/3m.v11i17.11171

Abstract

O termo estetética (ou esthéthique com H) foi cunhado por Lacoue-Labarthe
para designar, a um só tempo, o sentido do projeto ético de Lacan de retornar ao teatro trágico, procurando resgatar uma ética anterior à formulação filosófica do bem e a proximidade desse gesto teórico com aquele empreendido por Heidegger na Carta sobre o humanismo. Lacan teria demonstrado coragem ao tentar extrair uma ética da tragédia de Antígona num momento em que a
“rigorosa indiferença estruturalista” parecia ter interditado a questão ética. Em meio ao universo de desamparo metafísico, Lacan precisava ainda transpor a representação em direção à coisa freudiana, tal como Heidegger havia feito ao tentar renovar o modelo ontológico em A origem da obra de arte, através de uma “mímese originária”, uma mímese sem modelo. Esse recurso ao herói
trágico, somado ao apelo à obra de arte, na estratégia de ambos, inspirou a formulação do conceito estetética: uma dupla ultrapassagem da ética e da estética uma pela outra. Entretanto, Lacoue-Labarthe também alertou para os efeitos ético-políticos ruinosos que uma certa apropriação especulativa da
arte produziria. Os modelos do herói-poeta, em Heidegger, e do desejo puro e transgressor de Antígona, em Lacan, precisavam ser questionados. Lacoue-Labarthe aprendeu com o trágico moderno de H¶lderlin a operar com o desamparo metafísico, com o desaparecimento de modelos e com o testemunho da singularidade. Neste trabalho, pretendemos retomar a discussão da estetética
com Lacoue-Labarthe para nos perguntarmos se a proposta tardia de Lacan de pensar a “diferença absoluta” e a teoria dos nomes próprios não encontraria ressonâncias com a mímeses sem modelos e com o testemunho da singularidade.

Published

2017-07-04