A sombra e os restos
DOI:
https://doi.org/10.55702/3m.v11i16.11183Resumen
Ainda é possível uma literatura que seja forma de conhecimento da experiência social, tendo como ponto de apoio o pequeno realismo da vida cotidiana, atravessado por linhas de força mais profundas e gerais, que vão se apresentando ao leitor de vários ângulos, nenhum deles idealizado ou esvaziado de sentido crítico? Em nossa época, seria ainda possível uma literatura consciente de seus limites expressivos, mas que não fosse, apenas, um infindável jogo de pastiches, fundos falsos, pistas enganosas, frases de efeito, montagens engenhosas cujo sentido é apenas seu próprio vazio? O espírito dominante da nossa época diria que não, que já não é mais possível dar forma à complexidade da experiência social brasileira e que estaríamos condenados a jogos de linguagem inteligentes, mas vazios de qualquer dimensão crítica. Nas páginas seguintes, caminho na direção contrária, a partir de apenas um exemplo, muito pontual e focado, sem pretensão de generalizar a análise ou discutir teorias em abstrato. Talvez porque, nesses casos, menos de fato seja mais, e quanto mais cuidado se tenha na análise de um relato, mais clara se torne a posição defendida. O livro que analiso é Não falei, da escritora paulista Beatriz Bracher.1 Foi lançado em 2004 e teve uma repercussão muito discreta. Não consta dos livros mais em evidência, nem sua autora é indicada como um dos grandes nomes da literatura brasileira contemporânea. Não é um livro longo, mas penso que dá forma muito elaborada à experiência brasileira das últimas décadas, o que me levou a tentar a análise.Descargas
Publicado
2017-07-04
Número
Sección
Artigos
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