FORMA SOCIAL/ FORMA LITERÁRIA: A POLÍTICA DO FAVOR NA MODERNIDADE BRASILEIRA

Auteurs-es

  • Belmira Magalhães UFAL

DOI :

https://doi.org/10.55702/3m.v9i12.37871

Mots-clés :

capitalismo periférico, forma literária, realidade social, Graciliano Ramos.

Résumé

Considerando que a literatura
apresenta rupturas e continuidades,
propomo-nos uma leitura de Angústia,
de Graciliano Ramos, que parte da abor-
dagem que Roberto Schwarz faz sobre
Machado de Assis – política do favor–,
principalmente em relação ao compor-
tamento de uma parcela da população
que,  não participando diretamente da
contradição entre dominantes e domi-
nados  (senhores de escravos e escravos),
adquire uma importância fundamental
quando da dissolução do sistema
escravista no Brasil. Na verdade, estamos
querendo analisar qual a forma literária
que Graciliano Ramos encontra para discutir a ideologia da classe média num
país que, devido à sua história colonial,
tem em uma forma específica de  Esta-
do a única possibilidade de entificação
da persona do capital, já que a burguesia
“nacional”é incapaz de executar essa ta-
refa sozinha, pois  nasce atrelada ao ca-
pital internacional. Em Angústia, atra-
vés da relação entre as personagens,
Graciliano discute o ideário da pequena
burguesia e a exploração do capitalismo,
ao mesmo tempo em que enfatiza, atra-
vés de um aparente caso de amor, a ne-
cessidade de compreensão da realidade
para buscar formas de intervenção da
subjetividade e investiga criticamente a
moral social burguesa a partir da visão
de uma classe média que se forma den-
tro do aparato do Estado, portanto, atre-
lada à lógica do capital. Construindo
uma personagem que luta por valores
morais oriundos de uma estrutura agrá-
ria/patriarcal, cria uma forma de refle-
xão sobre o fato narrado, como já havia
feito em São Bernardo, indicando que
não está vivendo os fatos, mas refletindo
sobre eles. A nosso ver, Graciliano, ao
mesmo tempo em que mostra uma con-
tinuidade, na história brasileira, de uma
subalternidade à lógica dominante,
dialeticamente aponta para uma ruptu-
ra possível a partir dos acontecimentos
dos anos trinta em nossa história.

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Publié-e

2020-08-28