Quão epicurista ou estoico é Ricardo Reis?
DOI:
https://doi.org/10.25187/codex.v12i1.62356Palavras-chave:
poesia, epicurismo, estoicismo, Horácio , Ricardo ReisResumo
Neste artigo, consideramos a interface entre a poesia e a filosofia, a partir de uma perspectiva que se estende da Antiguidade a um autor moderno (Fernando Pessoa). Depois de notar, assim, que já os filósofos pré-socráticos foram poetas, concentramos nossas explicações sobre as escolas epicurista e estoica, desenvolvidas na Grécia helenística. O essencial dos ensinamentos dessas escolas filosóficas para o foco deste artigo é que, enquanto o epicurismo estabelecia como meta da vida humana o uso comedido dos prazeres, o estoicismo privilegiava a virtude. Ideias das duas escolas foram incorporadas às Odes, ou a outras obras, do poeta romano Horácio, por vezes de forma pacífica, por vezes com discordâncias. Similarmente, no heterônimo identificado com Ricardo Reis – que também compôs Odes –, encontramos positiva ou negativamente traços do epicurismo e do estoicismo, revelando forte vinculação temática com Horácio. Ele, assim, convida a desfrutar dos prazeres do vinho, da amizade e do amor, mas também os considera indiferentes. Além disso, estoicamente, pontua sua obra com versos associados ao desprezo dos revezes da fortuna e à aceitação do destino, ao mesmo tempo em que confessa temer as mudanças e a morte. Em seu ecletismo filosófico ou instabilidade de associação às escolas epicurista e estoica, portanto, Ricardo Reis aproxima-se de Horácio, seu modelo da Antiguidade.
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