Notas sobre o exemplo de Aquiles na Apologia (28c) e na República (386c-d e 516d) de Platão

Autores

  • Luisa Severo Buarque de Holanda PUC-Rio

DOI:

https://doi.org/10.47661/afcl.v11i21.11820

Palavras-chave:

Homero, Platão, Aquiles, Sócrates, Morte, Filosofia

Resumo

Se Sócrates sugere expulsar os poetas de sua politeia, é certo que Platão está longe de expulsá-los de sua literatura. São, sem dúvida, numerosos e variados os usos platônicos de trechos poéticos e, sobretudo, as paráfrases e citações do poeta supremo Homero. Proponho analisar neste artigo três citações de Homero feitas pelo Sócrates de Platão. A primeira delas (Apologia de Sócrates, 28d-e) toma o Aquiles da Ilíadacomo um exemplo a ser seguido. As duas outras (República, 386c-d e 516d) mencionam ambas a fala de Aquiles relatada nos versos 485-90 da Odisseia, mas operam de modo duplo: tomam suas palavras tanto como exemplo quanto como antiexemplo. O que eu gostaria de esclarecer é o fato de que, ainda que o conjunto de menções a Aquiles soe contraditório, as citações mostram-se altamente complementares se colocadas lado a lado, pois são todas utilizadas por Sócrates para retratar e elucidar questões referentes à relação filosófica com a morte.

Referências

ANTIFONTE. Testemunhos, fragmentos, discursos. Prefácio e tradução de Luís Felipe Bellintani Ribeiro. São Paulo: Edições Loyola, 2008.

CHIRON. A Retórica a Alexandre e os oradores áticos. Letras Clássicas, v. 4, p. 109-136, 2000.

COULTER, J. The relation of the Apology of Socrates to Gorgias' Defense of Palamedes and Plato's critique of gorgianic rhetoric. Harvard Studies in Classical Philology, v. 68, p. 269-303, 1964.

DORION, L. A. Le Gorgias et la défense de Socrate dans l'Apologie. Symposium Platonicum, v. 7, 2007.

FEAVER, D. D. & HARE, J. E. The Apology as an inverted parody of rhetoric. Arethu-sa, v. 14, p. 205-216, 1981.

GÓRGIAS. Defesa de Palamedes. Tradução de Gabrielle Cavalcante. Archai, n. 7, p. 201-218, may-aug. 2016.

HOMERO. Ilíada. Tradução de Carlos Alberto Nunes. São Paulo: Ediouro, 1989.

HOMERO. Odisseia. Tradução, posfácio e notas de Trajano Vieira. São Paulo: Editora 34, 2011.

ISÓCRATES. Complete works. Tradução de La Rue van Hook. The Loeb Classical Library. Cambridge: Harvard University Press; London: William Heinemann Ltd., 1945.

Mc COY, M. Platão e a retórica de filósofos e sofistas. Tradução de Lívia Oushiro. São Paulo: Madras, 2010.

NUSSBAUM, M. A fragilidade da bondade. Tradução de Ana Aguiar Cotrim. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

PLATÃO. Apologia de Sócrates. Tradução de Manuel de Oliveira Pulquério. Lisboa: Edições 70, 2013.

PLATÃO. A República. Tradução e notas de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1949.

PLATÃO. Górgias. Tradução, ensaio introdutório e notas de Daniel Lopes. São Paulo: Perspectiva, 2015.

RIBEIRO, A. M. As belas mortes de Sócrates e o encantamento da celebração dos mor-tos em Atenas. Educação e Filosofia. Uberlândia, v. 24, n. 47, p. 34-54, jan./jun., 2010.

ROSSETTI, L. “Rhétorique de l'anti-rhétorique” et “effet de surprise”: à l'origine de l'image négative des sophistes. Noesis, v. 2, 1998.

SANTORO, F. Risos no Tribunal : as referências de Sócrates à comédia e a Aristófanes, na Apologia. In: Memória & Festa. Orgs. Fábio S. Lessa e Regina C. Bustamante. Rio de Janeiro: Mauad, 2005, p. 606-611.

SAXONHOUSE, A. Free speech and democracy in ancient Athens. Cambridge: Cam-bridge University Press, 2006.

SCHIAPPA, E. The beginnings of rhetorical theory in classical Greece. New Haven, London: Yale University Press, 1999.

SEESKIN, K. Is the Apology of Socrates a parody? Philosophy and Literature, v. 6, p. 94-105, 1982.

VERNANT, J-P. A bela morte e o cadáver ultrajado. Discurso. São Paulo, n. 9, 1979, p. 31-62.

WEST, T. G. Plato's Apology of Socrates. An interpretation, with a new translation. Ithaca and London: Cornell University Press, 1979.

XENOFONTE. Apologia de Sócrates. Tradução de Líbero Rangel de Andrade. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

Downloads

Publicado

2018-11-17