Aprender a falar e a pensar: algumas notas em torno da dialética e da escrita no Fedro de Platão

Authors

  • Fábio Fortes Universidade federal de Juiz de Fora

DOI:

https://doi.org/10.47661/afcl.v11i22.22940

Keywords:

lógos, escrita, dialética, Platão

Abstract

No Fedro, de Platão, não somente a dinâmica da pesquisa dialética se materializa através das falas de seus personagens, como também eles próprios destacam a pesquisa dialética como tema de reflexão (266a-274b; 276a-279c). Em exercício de análise do terceiro discurso (265e-266b), Sócrates revela notável semelhança entre a estrutura do discurso e do “método dialético”: a busca de definições gerais para o assunto pesquisado, seguida de um método de divisões (διαίρεσις) e reunião (συναγωγή), com o qual se aprende a falar e a pensar (266c).  Encerrando a peça, os dialogantes refletem ainda sobre os entrelaçamentos entre os discursos dialéticos e a escrita: aqueles são capazes de defender a si próprios (contêm um germe que fará nascer outros discursos nas almas diferentes – 277a), como um corolário da ideia de que, embora a escrita, em geral, seja perigosa, exatamente por não ser autônoma, respondendo sempre o mesmo e requerendo espécie de tutela de seu autor (275d), seria um erro condenar todo tipo de escrita, pois existe um tipo específico de escrita (para ser estudada e pronunciada com fins didáticos) que caracterizaria os dialéticos (278a). Nessas duas passagens, o que fica claro é que a dinâmica da dialética no Fedro não pode prescindir dos embates que essa modalidade de linguagem tem em relação ao discurso oratório, por um lado, e à escrita, por outro. Iluminando especificamente este segundo ponto, propomos apresentar algumas notas que pretendem examinar em que medida o "falar e pensar" em Platão se enriquece e pode (ou não) se consubstanciar também na modalidade escrita da linguagem.

References

DIXSAUT, Monique. Metamorphoses de la dialectique dans les dialogues de Platon. Paris: VRIN, 2001.

DIXSAUT, M. Platon. Le désir de comprendre. Paris: Vrin, 2012.

KAHN, C. Plato on recollection. in: BENSON, H. (ed.) A companion to Plato. Malden/Oxford: Blackwell, 2006, p. 119-132.

MARQUES, M. P. Resenha a: A imagem do dialético nos diálogos tardios de Platão, de T. SZLEZÁK (2011). Síntese, Belo Horizonte, v. 39, n. 124, p. 301-306, 2012.

OTTON, A. K. Platonic dialogue and the education of the reader. Oxford: Oxford University Press, 2014

PLATÃO. Euthyphro, Apology, Crito, Phaedo, Phaedrus. Tradução inglesa de Harold North Fowler. Londres: Loeb/Heinemman, 1913.

_____. Fedro. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Belém: Edufpa, 2011.

_____. Phaedrus. Tradução inglesa de Alexander Nehamas & Paul Woodruff. In: COOPER, J. M. Plato, complete works. Cambridge: Hackett, 1997.

SCHÄFFER, C. (Org.) Léxico de Platão. Traduzido por Milton Camargo Motta. São Paulo: Loyola, 2012.

YUNIS, H. Plato, Phaedrus. Introduction and commentary. Cambridge: Cambridge University Press, 2014.

Published

2019-02-17