MULHERES ESCRAVIZADAS, DIREITO E ALFORRIA NO BRASIL E NO CARIBE FRANCÊS

Autores

Resumo

Desde o momento que o princípio do partus sequitur ventrem foi adotado nas Américas, os corpos das mulheres africanas e suas descendentes se tornaram espaços de conflito, exploração e resistência das experiências específicas vivenciadas por elas. Neste artigo, pretendemos abordar diferentes contextos jurídicos vivenciados e apropriados por mulheres escravizadas, libertandas e libertas,  para conquistar suas alforrias e/ou de suas famílias no Brasil e no Caribe francês. Desde a implatanção do Código Negro no Mundo Altântico Francês até a Lei do Ventre Livre no Brasil, é possível observar especificidades e similaridades na formas de apropriação de legislações escravistas e emancipacionistas, particularmente por mulheres que vivenciaram a experência da escravidão nas Américas e buscaram conquistar a liberdade.


Biografia do Autor

Letícia Gregório Canelas, Universidade de São Paulo - USP

Professora colaboradora (Edital PART) e pesquisadora de Pós-doutorado do Departamento de História (FFLCH) da Universidade de São Paulo, onde desenvolve atualmente uma pesquisa sobre escravidão, maternidade e políticas pró-natalistas nas colônias britânicas e francesas do Caribe e no Brasil, sob uma perspectiva de gênero e uma abordagem de história transnacional. Doutora em História pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP (2017). No doutorado, contou com o financiamento do CNPq e uma bolsa sanduíche da CAPES, com a qual realizou seu estágio de pesquisa na EHESS (França). Faz parte dos grupos de pesquisa Escravidão, Gênero e Maternidade nas sociedades escravistas do Atlântico, coordenado pela Profª Dra. Maria Helena P.T. Machado (USP), e Histórias das Afro-Américas e de Afro-americanos/as, coordenado pelo Prof. Dr. Eric Brasil Nepomuceno (UNILAB).

Caroline Passarini Sousa, Universidade de São Paulo (USP)

Possui bacharelado, licenciatura e mestrado em História pela Universidade de São Paulo. Atualmente é doutoranda no Programa de Pós Graduação em História Social da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, na Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Seu mestrado “Partus sequitur ventrem: reprodução e maternidade no estabelecimento da escravidão e abolição nas Américas até a primeira metade do século XIX”, contou com o financiamento Fapesp. É autora dos artigos “Raça, gênero e maternidade: as mulheres escravizadas na proposta de emancipação gradual de José Bonifácio”, publicado em 2020 pela Revista Em Tempo de Histórias (UnB), e “As primeiras experiências de ventre livre no mundo atlântico: norte dos Estados Unidos e América Latina (17801842)”, presente no livro Ventres Livres? Gênero, maternidade e legislação, publicado em 2021 pela Editora UNESP. Faz parte do grupo de pesquisa Escravidão, Gênero e Maternidade nas sociedades escravistas do Atlântico, coordenado pela Profª Dra. Maria Helena P.T. Machado. 


Giovana Puppin Tardivo, Universidade de São Paulo (USP)

Mestranda em História Social pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Possui bacharelado e licenciatura em História pela mesma instituição. Sua pesquisa é voltada para o estudo de gênero na escravidão, a partir da análise de uma documentação legal que busca ressaltar a presença de mulheres escravizadas e libertas nos tribunais quando buscaram suas liberdades em Taubaté, entre 1850 e 1888. É co-autora do artigo " Localizando a mulher escravizada nos Mundos do Trabalho." publicado pela Revista Cantareira (UFF).

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Publicado

2022-06-14

Edição

Seção

Dossiê Temático