Desejo e culpa: a sedução diabólica em Eça de Queiroz
DOI:
https://doi.org/10.36482/1809-5267.ARBP2021v73i3p.97-111Resumo
O presente texto pretende, a partir de visita à obra clássica de Eça de Queiroz (1880/1963), O mandarim, localizar elementos deste romance fantástico que possam nos oferecer pistas de trabalho, em ato literário, para compreender alguns conceitos da teoria psicanalítica freudo-lacaniana. Considerando que a associação entre o desejo inconsciente e a sedução diabólica é desde Freud uma constante, interrogamos, a partir do recurso do pacto, utilizado por Queiroz, as implicações e os desdobramentos clínico-teóricos a partir de três pontos conceituais. São eles, em particular, a questão das movimentações narcísicas que marcam um sujeito no interior do par dialético insatisfação e busca de realização; o conceito de gozo como o que se inscreve, além do princípio de prazer; e a dimensão da culpa que se realiza via masoquismo face à não assunção do sujeito pela responsabilidade quanto ao seu desejo e que se localiza no personagem principal do romance no campo do masoquismo moral.
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