Palavras dos Editores Convidados. Não ser o que (logo) sou: Paradoxos ontológicos na literatura latino-americana contemporânea

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DOI:

https://doi.org/10.1590/1517-106X/2024e62097

Resumo

Com esta proposta busca-se promover um debate teórico-crítico no âmbito dos estudos literários, que tenha como eixo problemático a importância do paradoxo como modo de pensamento e representação/construção do mundo, alternativo às epistemologias hegemônicas associadas à razão instrumental do Ocidente. Considerando, com G. Deleuze, que toda gramática e todo silogismo são um meio de manter a subordinação das conjunções ao verbo ser, um dos desafios intelectuais que enfrentamos atualmente consiste em pensar o “ser”, simultaneamente, em termos identitários e de devir, termo com uma genealogia que vai de Heráclito via Bergson até Deleuze e que vem sendo resgatado como forma de evitar essencializaçōes imobilizantes. Encontramos, em modos tão diversos como os que chamamos aqui “pensar-marrano”, “pensar-Exu” e nas cosmologias ameríndias, uma exoneração do indivíduo do peso e da obrigatoriedade de uma unidade coerente, disciplinadora hegemônica e homogeneizante. Nelas se desenha um paradoxo ontológico cardinal: aquele segundo o qual o eu devém eu mesmo só tornando-se outro. Por sua vez, estas as cosmologias “não ocidentais” subvertem a linearidade do tempo, na reimaginação do presente, do passado e do futuro, vistos como um todo organizado segundo leis mais sutis e complexas do que a concepção ocidental de tempo histórico. Cada vez mais presentes no cenário das artes e as literaturas contemporâneas, estas cosmologias mostram-se como fontes particularmente ricas de figuras paradoxais, constituindo uma intervenção epistemológica revestida de valor emergencial na situação liminar de um mundo em plena catástrofe, marcado pelas ondas de extinção e desertificação.

 

Palavras chave: paradoxo, devir, cosmologias não ocidentais

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Publicado

2024-03-28

Edição

Seção

Dossiê