Os corredores de transporte/desenvolvimento na África Austral: entre legado geopolítico e desafios geoeconômicos
DOI:
https://doi.org/10.59508/geoafrica.v2i6.59839Keywords:
Transportes, Corredores de desenvolvimento, Integração regionalAbstract
Desde a década de 2000, os corredores de transporte adquiriram uma relevância crescente no bojo das políticas estatais voltadas para a inserção competitiva da África na globalização. Investimentos em infraestruturas circulatórias e portuárias são legitimados pela luta contra o apagão logístico e pela retórica dos impactos estruturadores e desenvolvimentistas da modernização dos sistemas de transporte. No cone sul africano, que apresenta um elevado grau de integração comercial e funcional desde o início do século XX, os atuais corredores de desenvolvimento associam eixos de escoamento de mercadorias entre a hinterlândia regional e portos marítimos além de espaços apresentando um potencial de crescimento econômico com base na sua situação geográfica e as características do seu tecido produtivo. Defendemos a ideia de que esses novos corredores consagram a mudança da vocação destes objetos geográficos a partir dos anos 1990. Nas décadas anteriores, os corredores constituíam instrumentos de exercício da potência (África do sul) ou da resistência política (países da Linha de frente) num contexto geopolítico conturbado por guerras civis e rivalidades internacionais. O fim do regime apartheid, a resolução de conflitos em diversos países da região e a convergência de políticas macroeconômicas de cunho neoliberal conferiram um perfil menos geopolítico e mais geoeconômico aos corredores.
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Proposta de Política para Periódicos de Acesso Livre
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