Nós e a gente em quatro amostras do Português Brasileiro: revisitando a escala da saliência fônica

Autores

  • Maria Marta Pereira Scherre UFRJ
  • Anthony Julius Naro UFRJ
  • Lilian Coutinho Yacovenco UFRJ

DOI:

https://doi.org/10.35520/diadorim.2018.v20n0a23285

Resumo

Sob a perspectiva da Sociolinguística Variacionista, analisamos três construções com a primeira pessoa plural: padrão antigo – nós com -mos (nós moramos); não padrão – nós sem -mos (nós mora); padrão emergente – a gente sem -mos (a gente morou/a gente mora). Os dados analisados são de quatro amostras do português brasileiro – Santa Leopoldina-ES, Baixada Cuiabana -MT, Goiás e Vitória-ES – e foram analisados em oposições binárias e ternárias, por programas estatísticos da série Varbrul. Os resultados indicam que a restrição mais importante é o grau de facilidade da percepção da diferença entre formas com e sem o morfema -mos, conhecida como saliência fônica: quanto maior a saliência fônica, mais a possibilidade de usar a forma com -mos. Uma vez que as formas do pretérito tendem a ocupar altos níveis de saliência, há distribuição parcialmente sobreposta entre tempo e saliência. Para a terceira pessoa plural, pesquisas anteriores mostram que a saliência é um preditor melhor do que tempo. Para a primeira pessoa plural, a distribuição sobreposta tende a conduzir, em alguns contextos estruturais e sociais, a uma reanálise de tal forma que o morfema -mos é usado preferencialmente para marcar pretérito perfeito. Isto resolve a ambiguidade entre presente e pretérito nos casos padrão de nós com -mos (nós moramos, preferencialmente pretérito) e não padrão nós sem -mos (nós mora, presente). Como parte de um fl uxo de padronização, a construção nominal a gente, do substantivo latino singular gens gentis ‘tribo’, é inserida no sistema pronominal como primeira pessoa do plural. Isto cria um padrão emergente, a gente sem -mos. Estas questões nos levaram a (1) propor uma hierarquia da saliência levemente modifi cada, denominada de hierarquia da proeminência, (2) discutir análises binárias e ternárias e (3) concluir que processos diacrônicos de séculos passados emergem da análise sincrônica de dados hoje disponíveis.



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Publicado

2018-12-30