Da língua ao discurso: marcas de identificação no fio enunciativo
DOI:
https://doi.org/10.35520/diadorim.2011.v10n0a3940Resumo
Este trabalho tem como objetivo reconduzir a materialidade da língua à discursividade do arquivo, para compreender a construção de um efeito identitário na obra diarística Quarto de despejo: diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus. Trata-se de um estudo descritivo interpretativista que reconfigura três categorias linguísticas (formas de modalidade, junção conectiva e deslocamento sintático) mediante o jogo do interdiscurso com o intradiscurso. Situando-se para além da divisão estanque entre “o de dentro” e “o de fora” da língua, esta análise prestigia um movimento de desterritorialização teórica, em que o objeto discurso não é tomado na complementaridade do objeto língua. Como resultado da análise da materialidade discursiva, depreende-se que a intercessão da sintaxe com a historicidade compõe a divisão de uma posição-sujeito de porta-voz dos excluídos, bem como a congregação dos objetos em um regime de formação, traduzido: pela valorização do local e do regional; pela desestabilização das fronteiras entre o público e o privado e pelo rechaçamento do saber da história tradicional em prol do intempestivo, plural e heterodoxo saber “pós-moderno”. Em síntese, este trabalho fundamentado nos pressupostos da Análise do Discurso derivada de Pêcheux e Foucault reafirma que o enunciado é, antes de tudo, atestado no interior do arquivo.
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