O modo de organização argumentativo no discurso de pequenos agricultores sobre cultivos transgênicos
DOI:
https://doi.org/10.35520/diadorim.2011.v10n0a3944Resumo
Em debates polêmicos sobre temas de ciência e tecnologia, é comum se observar a desconsideração de saberes, opiniões e argumentos provenientes do “público leigo”. Em geral, considera-se que este não é capaz de opinar e menos ainda de decidir sobre questões na área. Essa postura hierárquica de domínio do conhecimento resulta, em grande medida, na falta de participação pública em tomadas de decisões relativas a tecnologias que impactam o cotidiano da sociedade, como no caso da introdução dos cultivos transgênicos no Brasil e do processo de consolidação do marco legal que os regulamenta. Durante o período em que autoridades políticas e setores interessados discutiram a questão, as tentativas de se dar voz e de se compreender a opinião dos diferentes atores sociais acerca dos transgênicos foram tímidas. Os pequenos agricultores, diretamente afetados pela nova tecnologia, tiveram envolvimento restrito no debate nacional sobre o tema. O objetivo deste trabalho é dar voz a esses atores e, assim, identificar e compreender melhor os dilemas por eles enfrentados na hora de decidir por plantar ou não cultivos transgênicos. Para isso, realizamos grupos focais com pequenos agricultores e analisamos, com base na teoria semiolinguística de Patrick Charaudeau, o arsenal argumentativo que colocam em prática na hora de falar desses dilemas. Observamos que ponderações e dúvidas, mais do que posições firmes e certezas, marcam o discurso desses atores sobre os transgênicos. Dos questionamentos feitos em relação a esses cultivos, alguns geraram mais controvérsia do que outros, como os supostos benefícios econômicos que proporcionam -- uma das principais questões consideradas pelos produtores. Por outro lado, a preocupação relacionada aos perigos de contaminação das culturas convencionais e à resistência das ervas daninhas ao herbicida usado nos cultivos transgênicos foi quase um consenso entre os agricultores ouvidos, que utilizaram seus saberes empíricos para defender argumentos e persuadir interlocutores.
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