BEBÊS NÃO LEXICALISTAS: CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTATUTO DE PALAVRA NA AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM

Autores

DOI:

https://doi.org/10.35520/diadorim.2021.v23n2a40547

Palavras-chave:

Palavra. Não lexicalismo. Morfologia baseada em morfemas. Aquisição da linguagem.

Resumo

Este artigo analisa o estatuto da unidade “palavra” (morfológica) à luz de fenômenos relevantes para a aquisição da linguagem. Inscrevendo-se no debate lexicalismo (CHOMSKY, 1995) versus não lexicalismo (HALLE & MARANTZ, 1993) e também no debate morfologia baseada em palavras versus morfologia baseada em morfemas, este trabalho discute a relevância da palavra (ou do item lexical) como sendo unidade de armazenamento, desencadeamento ou produção, tomando como base a literatura em aquisição de morfologia do português brasileiro. Em suma, o presente estudo mostra que não há motivação empírica para manter a oposição léxico/sintaxe, ambos como componentes gerativos, tampouco a oposição palavra/sintagma do ponto de vista do estatuo teórico em termos de produção, desencadeamento ou armazenamento.

Biografia do Autor

Maurício Resende, Universidade de São Paulo (USP)

Atualmente pós-doutorando em Linguística pela Universidade de São Paulo (USP), é doutor em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), mestre em Linguística pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), bacharel em Linguística e licenciado em Letras Português pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Tem experiência no ensino de português como segunda língua e no ensino de latim e atua também como tradutor técnico inglês-português na área de Linguística. Além disso, tem interesse por teoria e análise linguística, trabalhando com o modelo da Morfologia Distribuída e com as ferramentas da Semântica Formal. Seus principais temas de pesquisa são: processos de formação de palavras, modais, aquisição de morfologia, linguística diacrônica do português.

Referências

ALBUQUERQUE, H.; BEZERRA, G.; FERRARI-NETO, J. Percepção infantil da morfologia derivacional: um estudo experimental sobre segmentação de morfemas em português brasileiro. Signo y Seña. Buenos Aires. n. 22, p. 119-138, 2012.

AUGUSTO, M.; CORRÊA, L. S. Marcação de gênero, opcionalidade e generecidade: processamento de concordância de gênero no DP aos dois anos de idade. Linguística. Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, p. 207-234, 2005.

BAGETTI, T.; CORRÊA, L. S. The early recognition of verb affixes: evidence form Portuguese. In: ANNUAL BOSTON UNIVERSITY CONFERENCE ON LANGUAGE DEVELOPMENT, 35, 2011, Boston. Proceedings… Boston, ABUCLD, 2011, p.450-462.

CAMARA Jr., J. M. Estrutura da língua portuguesa. 40. ed. Petrópolis: Vozes, 2007 [1970].

CHOMSKY, N. The Minimalist Program. Cambridge: MIT, 1995.

CLARK, E. Morphology in language acquisition. In: SPENCER, A.; ZWICKY, A. (Ed.). The handbook of morphology. Cambridge: Blackwell, 2007, p. 374-379.

CORRÊA, L. S. Bootstrapping in language acquisition from a minimalista standpoint. In: PIRES, A.; ROTHMAN, J. (Ed.). Minimalist inquiries into child and adult language acquisition. Mouton de Gruyter: Berlin, 2009. p. 35-62.

COSTA, J.; SANTOS, A. L. A falar como os bebés. Lisboa: Caminho, 2003.

EMBICK, D. The morpheme: a theoretical introduction. Berlin: De Gruyter Mouton, 2015.

FERRARI-NETO, J. Passos em direção a uma teoria de aquisição de morfologia. In: CRUZ, R. T. (Org.). As interfaces da gramática. Curitiba: CRV, 2012. p. 215-238.

FERRARI-NETO, J.; LIMA, M. A. F. Aquisição da morfologia flexional verbal em português: brasileiro: um estudo com dados de compreensão. Protolíngua. v. 10, n. 1, p. 106-120, 2015.

GLEITMAN, L. The structural sources of verbal meaning. Language acquisition. v. 1, n.1, p. 3-55, 1990.

GOUT, A.; CRISTOPHE, A. O papel do bootstrapping prosódico na aquisição da sintaxe e do léxico. In: CORRÊA, L. S. (Org.). Aquisição da linguagem e problemas do desenvolvimento linguístico. São Paulo: Loyola, 2006. p. 103-128.

GROLLA, E.; FIGUEIREDO SILVA, M. C. Para conhecer aquisição da linguagem. São Paulo: Contexto, 2014.

GUASTI, M. T. Language acquisition: the growth of grammar. Cambridge: MIT, 2002.

HALLE, M. Prolegomena to a theory of word formation. Linguistic Inquiry. Cambridge, v. 4, n. 1, p. 3-16, 1973.

HALLE, M; MARANTZ, A. A Morfologia Distribuída e as peças da flexão. Curitiba: UFPR, 2020 [1993].

HALLE, M; MARANTZ, A. Algumas características centrais da Morfologia Distribuída. Revista do GELNE. Natal, v. 22, n.2, p. 418-429, 2020 [1994].

HARLEY, H. On the identity of roots. Theoretical linguistics. Berlin, v. 40, n. 3-4, p. 225-276, 2014.

HÖHLE, B. Bootstrapping mechanisms in first language acquisition. Linguistics. Berlim. v. 47, n. 2, p. 359-382, 2009.

KATO, M. Raízes não finitas na criança e a construção do sujeito. Cadernos de Estudos Linguísticos. Campinas, v. 29, p. 119-136, 1995.

LIEBER, R. English nouns: the ecology of nominalizations. Cambridge: Cambridge, 2016.

LIGNOS, C.; YANG, C. Morphology and language acquisition. In: HIPPISLEY, A.; STUMP, G. (Ed.). The Cambridge handbook of Morphology. Cambridge: Cambridge, 2016. p. 765-791.

MARANTZ, A. ‘Cat’ as a phrasal idiom: consequences of late insertion in Distributed Morphology, 1996. Não publicado.

MARANTZ, A. Sem escapatória da sintaxe: não tente fazer análise morfológica na privacidade do seu próprio léxico. ReVEL. Porto Alegre, v. 13, n. 24, p. 8-33, 2015 [1997].

MARANTZ, A. Words, 2001. Não publicado.

NAME, M. C. Pistas prosódicas, sintáticas e semânticas facilitadoras da identificação dos elementos das categorias N e Adj. Veredas. Juiz de Fora, v. 2, p. 125-138.

RESENDE, M. Mudança semântica diacrônica no domínio intravocabular: o caso das raízes ‘cranberry’ do português, In: ILARI, R.; BASSO, R. (Org.). História semântica do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2020. p. 120-145.

RESENDE, M. A Morfologia Distribuída e as peças da nominalização: morfofonologia, morfossintaxe, morfossemântica. 2020. 288 f. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

SANTOS, A. L.; LOPES, R. E. V. Primeiros passos na aquisição de sintaxe: direcionalidade, movimento do verbo e flexão. In: FREITAS, M. J.; SANTOS, A. L. (Ed.). Aquisição de língua materna e não materna: questões gerais e dados do português. Berlin: Language Science, 2017. p. 155-176.

SANTOS, R. S. Aquisição em língua materna e não materna: acento e palavra prosódica. In: FREITAS, M. J.; SANTOS, A. L. (Ed.). Aquisição de língua materna e não materna: questões gerais e dados do português. Berlin: Language Science, 2017. p. 95-117.

SANTOS, R. S.; SCARPA, E. M. A aquisição da morfologia verbal e sua relação com o acento primário. Letras de Hoje. Porto Alegre. v. 38, n. 4, p. 249-260, 2003.

SCALISE, S.; GUEVARA, E. The lexicalist approach to word formation and the notion of the lexicon. In: ŠTEKAUER, P.; LIEBER, R. (Ed.). Handbook of word formation. Dordrecht: Springer, 2005. p. 147-187.

TAKAHIRA, A. G. R. O processo de aquisição de verbos irregulares no português brasileiro. Estudos Linguísticos. São Paulo, v. 42, n. 1, p. 430-441, 2013.

TEIXEIRA, L.; CORRÊA, L. S. Pistas morfológicas e sintáticas na delimitação de adjetivos em relações predicativas e de adjunção na aquisição do PB. Revista da ABRALIN. v. 7, n. 2, p. 43-63, 2008.

VIGÁRIO, M.; GARCIA, P. Palavras complexas na aquisição da morfologia do português: estudo de caso. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE LINGUÍSTICA, 27, 2012, Lisboa. Textos selecionados... Lisboa, APL, 2012. p. 604-624.

YANG, C. The price of linguistic produtivity: how children learn to break into the the rules of language. Cambirdge: MIT, 2016.

YANG, C.; ROEPER, T. Minimalism and language acqusition. In: BOECKX, Cedric (Ed.). The Oxford handbook of linguistic Minimalism. Oxford: Oxford, 2011.

Downloads

Publicado

2021-09-20

Edição

Seção

Dossiê de Língua/Language Dossier