Formas de tratamento na história do português: composicionalidade pronominal e concordância verbal

Autores

  • Leonardo Lennertz Marcotulio UFRJ

DOI:

https://doi.org/10.35520/diadorim.2013.v14n0a4056

Resumo

Na história do português, é possível observar uma série de mudanças no quadro das formas pronominais de tratamento da 2ª pessoa do singular (2 SG) que pode ser correlacionada aos padrões de concordância verbal encontrados nas distintas gramáticas do português. No português arcaico, observa-se, como herança latina, a coexistência de dois pronomes de 2 SG. De um lado, o pronome Tu é encontrado com verbos na 2 SG e, de outro, o pronome de cortesia Vós ocorre com verbos na 2 PL. O português médio conserva as duas formas pronominais do período anterior e acrescenta uma nova forma pronominal de 2 SG, Vossa Mercê, resultante do processo de gramaticalização do sintagma possessivo vossa mercê. Essa nova forma gramaticalizada apresenta distintos padrões de concordância verbal: 2 PL e 3 SG. O estágio seguinte, português europeu (PE), mantém a 2 SG original Tu, que coexiste com a forma Você, apresentando verbos na 2 SG e 3 SG, respectivamente. Por fim, o português brasileiro apresenta a mesma gramática do PE e acrescenta, também, em seu período de formação, outros dois padrões de concordância verbal: Tu com verbos na 3 SG, padrão que se tornará produtivo no PB atual; e Você com verbos que apresentam morfologia de 2 SG. Nesse panorama descrito, o objetivo deste trabalho é discutir, a partir de um quadro teórico formal (CHOMSKY, 1995; 2000; KROCH, 1989; HARLEY; RITTER, 2002; DUARTE et al, 2002; LOPES; RUMEU, 2007; BÉJAR, 2008), como a composicionalidade dos pronomes de 2 SG, ao longo da história do português, pode ser correlacionada aos padrões de concordância verbal encontrados. Levando-se em consideração questões de natureza pragmática, defendo a existência de duas configurações pronominais distintas no português capazes de gerar todos os padrões encontrados. A partir da discussão teórica dos padrões de concordância verbal identificados, a cortesia pode ser codificada como uma categoria gramatical à qual a operação sintática de concordância é sensível.

Downloads

Publicado

2013-12-15

Edição

Seção

Artigos