Jogos sonoros no barroco brasileiro: sentido e nonsense nos poemas por “consoantes forçados”

Autores

DOI:

https://doi.org/10.35520/diadorim.2024.v26n2a60288

Palavras-chave:

Literatura barroca, jogos sonoros, rima, Gregório de Matos

Resumo

Fala-se frequentemente da dimensão experimental e do trabalho linguístico do barroco, mas pouca atenção tem sido dada ao aspeto sonoro na sua articulação com a produção de sentido, em particular ao nível da rima. Alguns poetas barrocos nascidos no Brasil (ou América portuguesa) destacam-se nesta matéria se comparados com os seus congéneres mais próximos (da metrópole portuguesa ou mesmo de Espanha). Em textos desses autores é possível detetar: a) por um lado, uma espécie de luta entre o oral e o escrito (e de algum modo também entre o visto e o lido) – estes poemas parecem concebidos para a oralidade e, portanto, para a recitação e a escuta coletivas, tendo assim uma clara dimensão performativa; b) por outro, uma espécie de luta contra o sentido, que acaba diluído – ou pela repetição ou pela insistência em sons estranhos.

Segundo o autor deste artigo, essa prática tem uma dimensão subversiva: para além do alcance particular, corrosivo, que tem em cada poema, provoca uma consequência mais geral, que põe em causa a linguagem como princípio estruturador e organizador do mundo. O objetivo do artigo é, pois, a fundamentação dessa ideia e a exemplificação dessa prática, com a análise de exemplos concretos.

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Biografia do Autor

Francisco Topa, Universidade do Porto / CITCEM

Francisco Topa (n. Porto, 1966) é Professor Associado do Departamento de Estudos Românicos da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, lecionando nas áreas de Literatura e Cultura Brasileiras, Crítica Textual, Literaturas Africanas de Língua Portuguesa e Literaturas Orais e Marginais. Doutorou-se em Literatura, em 2000, na mesma Faculdade, com uma tese sobre o poeta barroco Gregório de Matos. Obteve em 2016, também na FLUP, o título de Agregado em Estudos Literários, Culturais e Interartísticos, especialidade de Literatura e Cultura.

A sua investigação tem estado dirigida para a literatura portuguesa e brasileira dos séculos XVII e XVIII, para as literaturas africanas de língua portuguesa e para algumas áreas da literatura oral e marginal. Dentre a centena de trabalhos que publicou é possível destacar José da Silva Maia Ferreira – Espontaneidades da minha alma. Edição fac-similada (introdução e organização, 2018); Ernesto Marecos – Juca, a matumbola e outros textos angolenses (introdução e edição, 2018); Estudos de literatura brasileira em Portugal: travessias (organização; com Solange Fiuza Cardoso e Joelma Santana Siqueira; 2016); Manuel dos Santos Lima, escritor angolano tricontinental (organização; com Irena Vishan; 2016); De “Luuanda” a Luandino: veredas (organização; com Elsa Pereira; 2015); Luandino por (re)conhecer: uma entrevista, estórias dispersas, bibliografia (2014); Um G(onç)alo Renascido: poesia inédita do brasílico Gonçalo Soares da Franca (2012); Poesia inédita de Luís António Vernei (2001).

Referências

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Publicado

2024-12-30

Edição

Seção

v26n2 - LIT: O ziguezague de vozes e escritas em espaços de contato(s) e miscigenação mundo afora