Tiroteios, legibilidade e espaço urbano: Notas etnográficas de uma favela carioca

Autores

  • Mariana Cavalcanti

Resumo

O artigo toma o tiroteio na favela como ponto de partida para tecer uma etnografia do modo como o medo e a incerteza relacionados à “violência urbana” (como representação social) vêm sendo internalizados por seus moradores. Seu núcleo analítico recai sobre a perspectiva do espaço da favela, tal como vivido e experimentado pelos moradores. A hipótese desenvolvida é a de que, da perspectiva da experiência vivida, a (re)produção e construção social do espaço da favela são atravessadas por
uma série de dinâmicas e rotinas em grande parte impostas pela ação do tráfico, mas também reproduzidas pela ação de atores públicos, privados ou do terceiro setor, incluindo aí as estratégias cotidianas dos moradores de evitar riscos. A análise de tais rotinas e dinâmicas traz à tona uma certa territorialidade que produz noções e práticas de visibilidade e inteligibilidade do espaço físico urbano, cuja leitura e interpretação passam a constituir uma atividade hermenêutica constante e constituinte do habitus de seus moradores -- dentro e fora das comunidades onde vivem.

 

The article Shootouts, legibility and urban space: Ethnographic notes from a favela in Rio de Janeiro takes shootouts in Rio shantytowns as a point of departure for an ethnography of the ways in which fear and uncertainty related to
“urban violence” (conceived here as a social representation) are incorporated by favela residents. The hypothesis developed here is that the social (re)production and construction of the space of the shantytown is pervaded by dynamics and
routines to a great extent imposed by the drug trade, but are also reproduced by public, private and “third sector” actors -- including residents' own quotidian risk avoidance routines. The analysis of such routines and spatial tactics brings to
light a certain territoriality that is productive of practices that aim at rendering the city space visible and intelligible. Finally, this article examines how this reading and interpretation has become a hermeneutic activity that is constitutive of the
habitus of favela residents -- within and outside the communities in which they live.

Biografia do Autor

Mariana Cavalcanti

Antropóloga, professora do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da
Fundação Getulio Vargas (CPDOC/FGV)

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Publicado

2008-07-01

Edição

Seção

Artigos