"Mudar a língua é mudar o mundo": a utopia da escrita segundo Roland Barthes e Haroldo de Campos
Abstract
Roland Barthes constrói sua teoria da literatura a partir de uma noção específica de escrita, a écriture. Essa noção de escrita, inspirada pela linhagem poética que descende de Mallarmé, vem deslocar uma noção de literatura entendida como instituição, as Belas Letras. A essa “Instituição Literatura”, Barthes vai opor uma noção de escrita guiada por uma utopia. Pode-se mesmo dizer que, para Barthes, é literatura a escrita movida por um movimento utópico: “mudar a língua é mudar o mundo”. Essa perspectiva ressoa, no Brasil, na elaboração crítica de Haroldo de Campos, em especial no artigo “Poesia e modernidade: da morte da arte à constelação. O poema pós-utópico”. Neste artigo, faremos um percurso pela teoria da literatura de Roland Barthes, cotejando-a com outras formulações acerca da perspectiva utópica, como o tema da utopia e das “pós-utopias” de Haroldo de Campos e, em parte, com a proposta de Marcos Siscar em De volta ao fim. Veremos que, na utopia sustentada pela escrita literária, anuncia-se uma política própria ao fazer literário e que não deixa de propor um porvir ao nosso tempo.
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