Memórias do obsceno: estudo da narrativa de memórias em Contos d'escárnio: textos grotescos, de Hilda Hilst, e em Memórias de minhas putas tristes Gabriel García Márquez
Abstrakt
A nossa literatura mais recente guarda em si alguns problemas para quem se mobiliza para uma leitura menos contemplativa dos textos produzidos. Primeiro, as questões que se relacionam com a atualidade da obra: como situar a contemporaneidade nas mesmas? Recente nem sempre sinonimiza atual, o que demanda um esforço para garantir o status de validação literária ao ponto de justificar a eleição do objeto analítico. Segundo, em época de trocas instantâneas e globais de informação, em que o tempo e espaço emergem diluídos numa condição para além do plausível/lógico, em que se assiste a uma nova definição de realismo, de subjetividade artística e humana, o que ainda pode ser objeto de escândalo em literatura? Terceiro, renderia um debate entre autores sem fazer disso um exercício valorativo, de apontar quem é mais ou quem é menos competente no âmbito estético? Por último, caberia à memória também uma função catártica, quando pela narrativa poderia se chegar ao expurgo do que, no plano do real (no sentido de realidade), seria esdrúxulo e obsceno?
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