Revista Mulemba, V. 18, N. 35, jul.-dez. 2026
Dossiê: Literatura da Guiné-Bissau: resistência, lutas, memória e ancestralidade
Resumo:
Em 1977, Manuel Ferreira, no livro Literaturas africanas de expressão portuguesa, abre o capítulo referente à Guiné-Bissau afirmando: “[e]stamos perante o capítulo menos expressivo do espaço literário africano de expressão portuguesa” (Ferreira, 1977, p. 89). Depois de quase 50 anos desta obra, pode-se afirmar que o cenário é outro, uma vez que houve um notável crescimento de novas publicações e de novos autores. Constata-se que escritores e escritoras guineenses carrearam seus construtos ficcionais e poéticos somando peças ao mosaico cultural nacional para elaborar projetos enunciativos dessa nação literária.
Tais produções deram especial relevo a olhar criticamente a História recente, seja pré-independência, seja pós-independência, a fim de “escovar a História a contrapelo” (Benjamin, 1994, p. 225), visando a compreender, questionar e tensionar o presente do país. Como resultado de tal vislumbre, emerge uma literatura que resgata memórias tanto da luta pela independência, quanto das guerras em solo guineense; que mergulha nas tradições do país, revelando-se ao leitor exógeno, por meio dos Irans, dos poilões, dos toka-tchur; e, principalmente, que resiste, simplesmente, porque existe, mesmo com números tão altos de analfabetismo.
O aumento da produção literária, por sua vez, é responsável pela ampliação do interesse na pesquisa desta literatura, bem como o número de críticos que têm se dedicado à investigação da Guiné-Bissau. Desta feita, propomos neste dossiê temático acolher artigos que debatam criticamente obras do sistema literário da Guiné-Bissau, a fim de realizar um panorama dessa literatura contemporaneamente. Assim, serão aceitas investigações que abordem análises da literatura produzida por guineenses, seja no território nacional, seja na diáspora.
Palavras-chave: Literatura da Guiné-Bissau; Memória; Resistência; Ancestralidade.