Na trama dos tempos, os narradores de entre as memórias silenciadas

Authors

DOI:

https://doi.org/10.35520/mulemba.2022.v14n27a53732

Keywords:

narradores, Entre as Memórias Silenciadas, Ungulani Ba Ka Khosa, campos de reeducação, Moçambique.

Abstract

O objetivo deste artigo é analisar a relação entre o tempo e os narradores no romance Entre as Memórias Silenciadas, de Ungulani Ba Ka Khosa (2013). Deste modo, identificam-se três narradores: o narrador griôt, relacionado a personagens que falam de um tempo suspenso e passado, como o Velho Tomás e a matriarca da família Chibindzi; o narrador testemunho, que se apresenta no tempo presente; como a voz de Gil, mas não apenas a dele, um dos detidos no campo de reeducação no Niassa; e o narrador letrado, que perpassa todo o romance e transita por diferentes épocas e espaços, costurando pontes e reflexões sobre o conjunto da narrativa. Assim, na trama dos tempos, os narradores de Entre as Memórias Silenciadas se intercalam para iluminar polifônicas versões que questionam a monofonia da história oficial. Para dar conta desta análise, foram mobilizados teóricos como Amadou Hampâté Bâ, Mikhail Bakhtin e Paul Ricoeur, entre outros. Estudos críticos, em especial os de Rita Chaves, Márcio Seligmann-Silva e Vanessa Teixeira, também contribuíram para esta pesquisa.

Author Biography

Carla Tais dos Santos, Universidade de São Paulo

Carla Santos é doutoranda do Programa de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa da USP e mestra em Letras Vernáculas (Literaturas Portuguesa e Africanas) pela UFRJ (2020). É uma das coautoras do livro "Literaturas de língua portuguesa e pensamento crítico no século XXI"(Urutau, 2021) e "Pensando o cinema moçambicano" (Kapulana, 2018).

References

ANGELINI, Paulo Ricardo Kralik. Capelas imperfeitas: o narrador na construção da literatura portuguesa do século XXI. Tese (Doutorado em Literaturas Brasileira, Portuguesa) - Instituto de Letras, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008.

BÂ, Amadou Hampâté. A Tradição Viva. In: KI-ZERBO, Joseph. (org.). História geral da África, v. 1, pp. 167-212. Brasília: Unesco, 2010.

BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. 2a ed. São Paulo: Hucitec, 1981 [1929].

BOOTH, Wayne C. A Retórica da Ficção. Tradução: Maria Teresa H. Guerreiro. Lisboa: Artes e Letras/Arcádia, 1980.

CHAVES, Rita. O passado presente na literatura africana. Revista Via Atlântica, São Paulo, n. 7, 2004, pp.147-161.

GALLO, Fernanda. Ba Ka Khosa, Ungulani. Entre memórias silenciadas. Revista Scripta, PUC-Minas, Belo Horizonte, v. 19, n. 37, 2º sem. 2015, pp. 293-295.

HOWE, Herbert M. National Security in Mozambique, a country study. Foreign Area Studies. Washington: The American University, 1984.

KHOSA, Ungulani Ba Ka. Ualalapi. Lisboa: Editorial Caminho, 1987.

KHOSA, Ungulani Ba Ka. Entre as Memórias Silenciadas. 1a ed. Maputo: Alcance Editores, 2013.

KI-ZERBO, Joseph. Para quando a África? Entrevista com René Holenstein. Rio de Janeiro: Pallas, 2006.

LEITE, Ana Mafalda. Oralidades & escritas: Estudos sobre Literaturas Africanas. Rio de Janeiro: Eduerj, 2012.

LIMA, Rainério dos Santos. Memórias indesejadas: os campos de reeducação na ficção de Ungulani Ba Ka Khosa. Revista Eletrônica Literatura e Autoritarismo, UFSM, Santa Maria, n. 18, jul./dez. 2017, pp. 31-39.

MOURÃO, José Augusto. Tradição oral e literatura bíblica. Revista da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Edições Colibri, Lisboa, n. 9, 1996, pp. 163-175.

PACHINUAPA, Raimundo Domingos. Do rovuma ao maputo: a marcha triunfal de Samora Machel : Primeiro presidente de Moçambique. Maputo: [s.n], 2005.

RICOEUR, Paul. Memória, história e esquecimento. Conferência proferida em inglês a 8 de março de 2003, em Budapeste, sob o título “Memory, history, oblivion” no âmbito da conferência internacional intitulada Haunting Memories? History in Europe after Authoritarianism. Tradução da Faculdade de Letras de Coimbra. Disponível em:

<https://www.uc.pt/fluc/uidief/textos_ricoeur/memoria_historia>. Acesso em: 15 set. 2020.

SANTOS, Carla Tais. “Cinema e literatura sobre os campos de reeducação em Moçambique”. In: SECCO, Carmen Lúcia Tindó (Org.). Pensando o cinema moçambicano, Ensaios. São Paulo: Kapulana, 2018, pp. 99-112.

SELIGMANN-SILVA, Márcio. Literatura, testemunho e tragédia: pensando algumas diferenças. In: SELIGMANN-SILVA, Márcio (org). O Local da Diferença, ensaios sobre memória, arte, literatura e tradução. São Paulo: Editora 34, 2005.

SELIGMANN-SILVA, Márcio. O testemunho: entre a ficção e o “real”. In: SELIGMANNSILVA, Márcio (Org.). História, memória, literatura: o testemunho na era das catástrofes. Campinas: Editora da Unicamp, 2003, pp. 379-80.

SOUSA, Glória. As feridas abertas pelo processo de reeducação em Moçambique. DW, 31 ago. 2013. Disponível em: <https://www.dw.com/pt-002/as-feridas-abertas-pelo-processo-de- reeduca%C3%A7%C3%A3o-em-mo%C3%A7ambique/a-16948901-0>. Acesso em: 10 abr. 2020.

TARTTER, Jean R. Government and Politics. In: TARTTER, Jean R. Mozambique, a country study. Foreign Area Studies. Washington: The American University, 1984.

TEIXEIRA, Vanessa Ribeiro. Das telas de cinema à terra que se faz tinta: Ungulani Ba Ka Khosa entre as estórias de Moçambique e a história Moçambicana. Revista Acadêmica Magistro, Unigranrio, Rio de Janeiro, v. 1, n. 15, 2017, pp. 26-36.

THOMAZ, Omar Ribeiro. Escravos sem dono: a experiência social dos campos de trabalho em Moçambique no período socialista. Revista de Antropologia, USP, São Paulo, v. 51, n. 1, 2008, pp. 177-214.

XAVIER, Ismail. O discurso cinematográfico: a opacidade e a transparência. São Paulo: Paz e Terra, 2005.

Published

2023-02-28