Mutilações necrobiopolíticas em <i>Os transparentes</i>, de Ondjaki

Auteurs-es

  • Rick Afonso-Rocha Doutoranda e mestra em Letras (UESC). Bacharela em Direito (UESC). Advogado (OAB/BA).
  • Iago Moura Melo Doutorando e mestre em Letras (UESC). Bacharel em Direito (UESC). Advogado (OAB/BA).

DOI :

https://doi.org/10.35520/mulemba.2020.v12n22a39824

Mots-clés :

necropolítica, biopoder, formas culturais, Angola.

Résumé

Neste trabalho, pensamos a textualização de um imaginário sobre Angola, dividido e constituído pelo Outro, em Os transparentes, de Ondjaki. Situamos os nossos gestos analíticos a partir do processo de transparenciação da personagem Odonato. Expomos, brevemente, as condições de produção sócio-históricas do texto. Lemos o entrecruzamento significante do insólito com uma Luanda contemporânea, habitada por pessoas comuns, simples e pobres, cujas histórias são atravessadas por silenciamentos. Constituímos uma escuta materialista, partindo do corpus teórico fornecido pelos estudos culturais, campo crítico que admite tratar do político no simbólico, sem perder de vista o histórico e a resistência inscrita na relação saber/poder/colonialidades.

Références

AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua. Trad. de Henrique Burigo. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2007.

AGAMBEN, Giorgio. O que é um dispositivo? Outra Travessia, Florianópolis, n. 5, p. 9-16, 2005.

AGAMBEN, Giorgio. Profanações. Boitempo Editorial, 2015.

ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a expansão do nacionalismo. Trad. de C. Mira. Lisboa: Edições 70, 2005.

ARISTÓTELES. Retórica das paixões. Trad. de Ísis Borges Belchior da Fonseca. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Zahar, 2008.

BENTO, Berenice. Necrobiopoder: Quem pode habitar o Estado-nação? Cadernos Pagu, n. 53, 2018.

BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada. Trad. de Padre Antônio Pereira de Figueredo. Rio de Janeiro: Encyclopaedia Britannica, 1980. Edição Ecumênica.

BOURDIEU, Pierre. Violência simbólica e lutas políticas. In:______. Meditações pascalianas. Trad. Sergio Miceli. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. p. 199-251.

CHARTIER, Roger. Defesa e ilustração da noção de representação. Fronteiras, v. 13, n. 24, p. 15-29, 2011.

DE OTO, Alejandro; QUINTANA, María Marta. “Biopolítica y colonialidad. Una lectura crítica de Homo sacer”. Tabula Rasa, n. 12, p. 47-72, 2010.

DELEUZE, Gilles. Foucault. Trad. de Claudia Sant’anna Martins. São Paulo: Brasiliense, 2005.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. “Como criar para si um corpo sem órgãos”. In: ______. Mil Platôs. Vol. 3. Trad. de Aurélio Guerra Neto et alli. São Paulo: Ed. 34, 2008.

DERRIDA, Jaques. Força de lei: o fundamento místico da autoridade. Trad. de Leyla Perrone-Moisés. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade 1: a vontade de saber. Trad. de Maria Thereza da Costa Albuquerque e JA Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2017.

___________. O governo de si e dos outros. Trad. de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

___________. O sujeito e o poder. In: DREYFUS, H.; RABINOW, P. Michel Foucault uma trajetória filosófica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995. p. 231-249.

___________. Vigiar e punir. Trad. de Raquel Ramalhete. Rio de Janeiro: Vozes, 1987.

FREIRE, Anna Isabel Santos. A representação das personagens pobres em Os transparentes, de Ondjaki. 2017. 121 f. Dissertação (Mestrado em Literatura) — Universidade de Brasília, Brasília, 2017.

GALEANO, Eduardo. El derecho al delirio. In: ______. Patas arriba: la escuela del mundo al revés. Madrid: Siglo XXI, 1998.

GROS, Frédéric. A ética da obediência. In: NOVAES, Adauto (Org.). Mutações: fontes passionais da violência. São Paulo: Editora do SESC, 2016. p. 221-236.

GROSFOGUEL, Ramón; CASTRO-GOMEZ, Santiago (Orgs). El giro decolonial. Reflexiones para una diversidad, Bogotá: Universidad Central Bogotá, 2007.

LAPOUJADE, David. O corpo que não aguenta mais. In: LINS, Daniel; GADELHA, Sylvio (Orgs.) Nietzsche e Deleuze: que pode o corpo. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002, p.81-90.

MAFFESOLI, Michel. O instante eterno. São Paulo: Zouk, 2003.

MANSANO, Sonia Regina Vargas; NALLI, Marcos. “O medo como dispositivo biopolítico”. Revista Psicologia: teoria e prática. São Paulo, jan- abr, p. 72-84, 2018.

MATA, Inocência. Ficção e história na literatura angolana: o caso de Pepetela. Lisboa: Edições Colibri, 2012.

___________. Refigurando o espaço da nação. In: PADILHA, Laura Cavalcante; RIBEIRO, Margarida Calafate (Org.). Lendo Angola. Porto: Edições Afrontamento, 2008.

MBEMBE, Achille. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. Trad. de Renata Santini. São Paulo: n-1 edições, 2018.

ONDJAKI. Os transparentes. São Paulo: Companhia das Letras, 2013a

___________. Umas Palavras: Ep. 06: Ondjaki. Entrevistadora Maria Beatriz Fonseca Corrêa do Lago. São Gonçalo: Canal Futura, 2013b.

ORLANDI, E. P.; SOUZA, T. C. C. A língua imaginária e a língua fluida: dois métodos de trabalho com a linguagem. In: ORLANDI, E. P. Política lingüística na América Latina.

Campinas: Pontes, 1988.

PEDRÓS GASCÓN, Antonio Francisco. España, laberinto de soledades: latinoamericanización del imaginario nacional en Tiempo de silencio y Reivindicación del conde don Julián. España contemporánea: Revista de literatura y cultura, Barcelona, v. 20, n. 1, p. 39-62, 2007.

Pêcheux M. Especificidade de uma disciplina de interpretação (A Análise do Discurso na França). In: Pêcheux M. Análise de Discurso: Michel Pêcheux. Textos selecionados por Eni Puccinelli Orlandi. 2ª ed. Campinas: Pontes; 2011 [1984a]. pp. 227-230.

PEREIRA, Pedro Paulo Gomes (2015). Queer decolonial: quando as teorias viajam. Revista Semestral do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFSCar, v. 5, n. 2, p. 411.

PESAVENTO, Sandra Jatahi. Este mundo verdadeiro das coisas de mentira: entre a arte e a história. Revista Estudos Históricos, São Paulo, v. 2, n. 30, p. 56-75, 2002

RIBEIRO, O. M. M.; MOREIRA, F. A. T. Luanda: dinâmicas urbanas e representações culturais. Itinerários, Araraquara, n. 46, p. 187-201, jan./jun. 2018.

RUI, Manuel. Eu e o outro – o invasor ou em poucas três linhas uma maneira de pensar o texto. Comunicação apresentada no Encontro Perfil da Literatura Negra. São Paulo, Brasil, 23/05/1985. Disponível em: http://negritudeeliteratura.blogspot.com/2011/01/manuel-rui-eu-e-o-outro-o-invasor-ou-em.html Acesso em 30 ago 2019.

SAID, Edward W. Cultura e imperialismo. Trad. de Denise Bottiman. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Do pós-moderno ao pós-colonial. E para além de um e de outro. Travessias, n. 6/7, p. 15-36, 2008.

SELIGMANN-SILVA, Márcio. Narrar o trauma: a questão dos testemunhos de catástrofes históricas. Psicol. clin. [online]. 2008, vol.20, n.1, pp. 65-82.

WARAT, Luis Alberto. Manifesto do surrealismo jurídico. Santa Catarina: Acadêmica, 1988.

Téléchargements

Publié-e

2020-12-02