NICHO TRÓFICO E PARTIÇÃO DE FONTES POLÍNICAS POR DUAS ESPÉCIES DE MELIPONA (HYMENOPTERA, APIDAE) NA AMAZÔNIA ORIENTAL
DOI:
https://doi.org/10.4257/oeco.2018.2204.08Palavras-chave:
Melipona fasciculata, Melipona flavolineata, niche overlap, stingless beesResumo
Abelhas sem ferrão visitam várias espécies de plantas em busca de recursos florais para a alimentação e manutenção das colônias. Assim, elas constantemente apresentam um hábito generalista para maximizar a coleta de recursos. Este estudo objetivou identificar o espectro polínico, a amplitude de nicho trófico e a similaridade na utilização de recursos alimentares entre as espécies Melipona flavolineata e M. fasciculata e analisar a amplitude do nicho trófico e a similaridade na utilização de recursos alimentares na Amazônia Oriental. Amostras de cargas corbiculares de operárias foram coletadas mensalmente (set/2014 a ago/2015) em três colônias de cada espécie em área de floresta amazônica com campos periodicamente alagados. As espécies mais frequentes no espectro polínico das duas espécies de Melipona foram Arecaceae (22%), Fabaceae (18,5%), Myrtaceae (9,6%), Melastomataceae (8,4%) e Lecythidaceae (6%). As espécies mais frequentes foram: Attalea speciosa, Mouriri acutiflora, Mimosa pudica, Rhynchospora cephalotes e Eschweilera ovata. Dos 82 tipos de pólen identificados, M. flavolineata coletou 66 tipos, enquanto M. fasciculata coletou 58. Ambas as espécies de abelhas compartilharam 43 espécies de plantas. A amplitude do nicho trófico anual foi elevada, com H' = 3,41 para M. flavolineata e 3,43 para M. fasciculata. A uniformidade do uso de pólen durante o ano, J' = 0,81 para M. flavolineata e 0,84 para M. fasciculata. Nos meses chuvosos (ago-dez), a variedade de tipos de pólen coletados foi maior do que na estação seca (jan-jul). As duas espécies de Melipona apresentaram forrageamento generalista, coletando anualmente em muitas espécies, porém com baixa uniformidade de coleta. A alta sobreposição de nicho e o número de espécies de plantas utilizadas pelas duas espécies de abelha sem ferrão podem demonstrar seu importante papel como polinizadores de plantas nesse ecossistema.
TROPHIC NICHE AND FLORAL RESOURCES PARTITION BETWEEN TWO SPECIES OF MELIPONA (HYMENOPTERA, APIDAE) IN THE EASTERN AMAZON. Stingless bees visit several plant species in the search of floral resources for feeding and for maintaining colonies. Thus, they present a generalist habit to maximize the collection of resources. This study aimed to identify the pollen spectrum, trophic niche amplitude and the similarity in food resources utilization between the species Melipona flavolineata and M. fasciculata from the Eastern Amazon. Samples of workers’ corbicular loads were collected monthly (Sep/2014 to Aug/2015) in three colonies of each species, in an area of Amazonian forest with periodically flooded fields. The most frequent families present in the pollen spectrum of the two Melipona species were Arecaceae (22%), Fabaceae (18.5%), Myrtaceae (9.6%), Melastomataceae (8.4%) and Lecythidaceae (6%). The most frequent species were Attalea speciosa, Mouriri acutiflora, Mimosa pudica, Rhynchospora cephalotes and Eschweilera ovata. From the 82 pollen types identified, M. flavolineata collected 66 types, while M. fasciculata collected 58. Both bee species shared 43 plant species. The annual trophic niche amplitude was elevated, with H' = 3.41 for M. flavolineata and 3.43 for M. fasciculata. The uniformity of the use of pollen types during the year, J' = 0.81 for M. flavolineata and 0,84 for M. fasciculata. In the rainy months (Aug-Dec) the variety of pollen types collected was higher than in the dry season (Jan-Jul). The two Melipona presented generalist foraging, collecting annually in many species however with low collection uniformity. The high niche overlap and number of plant species used by the two stingless bee species can demonstrate their important role as a plant pollinator in this ecosystem.
Referências
Albuquerque, P. M. C., Gostinski, L. F., Rêgo, M. M. C., & Carreira, L. M. M. 2013. Flores e abelhas: a interação da tiúba (Melipona fasciculata, Meliponini) com suas fontes florais na Baixada Maranhense. São Luís: Edufma: p. 163.
Almeida, D., Marchini, L. C., Sodré, G. S., D’Ávila, M., & Arruda, C. M. F. 2003. Plantas visitadas por abelhas e polinização. Piracicaba: ESALQ: p. 40.
Araújo, E. D., Costa, M., Chaud-Netto, J., & Fowler, H. G. 2004. Body size and flight distance in stingless bees (Hymenoptera: Meliponini): inference of flight range and possible ecological implications. Brazilian Journal of Biology, 64(3B): 563‒568. DOI: 10.1590/S1519-69842004000400003
Araújo, N. A., & Pinheiro, C. U. B. 2011. Caracterização florística de unidades de paisagens e tipologias vegetacionais em áreas inundáveis da bacia hidrográfica do Rio Pindaré, região da Baixada Maranhense. Boletim do Laboratório de Hidrobiologia, 24(1), 33‒50.
Araújo, S. E., Souza, S. R., & Fernandes, M. S. 2003. Morphological and molecular traits and accumulation of grain protein in rice varieties from Maranhão, Brazil. Pesquisa Agropecuária Brasileira, 38, 1281‒1288. DOI: 10.1590/S0100-204X2003001100005
Barros, M. H. M. R., Luz, C. F. da, & Albuquerque, P. M. C. 2013. Pollen analysis of geopropolis of Melipona (Melikerria) fasciculata Smith, 1854 (Meliponini, Apidae, Hymenoptera) in areas of Restinga, Cerrado and flooded fields in the state of Maranhão, Brazil. Grana, 52(2), 81‒92. DOI: 10.1080/00173134.2013.765909.
Barth, O. M. 1989. O pólen no mel brasileiro. Rio de Janeiro: Luxor: p. 50.
Bezerra, M. D. B. 2002. Beekeeping, an essential activity to the household economy of the humid tropics. In: Moura, E.G. (Ed.), Agroenvironments of transition: from the humid tropics and semi-arid. pp. 144‒203. São Luís: UEMA.
Biesmeijer, J. C., & Slaa, E. J. 2006. The structure of eusocial bee assemblages in Brazil. Apidologie, 37, 240‒258. DOI: 10.1051/apido:2006014
Carreira, L. M. M., Silva, M. F., Lopes, J. R. C., & Nascimento, L. A. S. 1996. Catálogo de Pólen das leguminosas da Amazônia Brasileira. 1ª ed. Belém: Museu Goeldi: p. 137.
Carvalho, G. C. A., Ribeiro, M. H. M., Araújo, A. C. A. M., Barbosa, M. M., Oliveira, F. S. O., & Albuquerque, P. M. C. 2016. Flora de importância polínica utilizada por Melipona (melikerria) fasciculata Smith, 1854 (Hymenoptera: Apidae: Meliponini) em uma área de floresta amazônica na região da Baixada Maranhense, Brasil. Oecologia Australis, 20(1), 58‒68. DOI: 10.4257/oeco.2016.2001.05
Cortopassi-Laurino, M., & Ramalho, M. 1988. Pollen harvest by Africanized Apis mellifera and Trigona spinipes in São Paulo: botanical and ecological views. Apidologie, 19(1), 1‒2. DOI: 10.1051/apido:19880101
CPTEC. Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos. 2017. Clima Bequimão – Maranhão. From: http://proclima.cptec.inpe.br/balanco_hidrico/balancohidrico.shtml
Erdtman, G. 1960. The acetolysis method. A revised description. Svensk Botanisk Tidskrift, 54(4), 561‒564.
Ferreira, M. G., & Absy, M. L. 2017. Pollen analysis of honeys of Melipona (Michmelia) seminigra merrillae and Melipona (Melikerria) interrupta (Hymenoptera: Apidae) bred in Central Amazon, Brazil, Grana, 56, 6, 436-449. DOI: 10.1080/00173134.2016.1277259
Gostinski, L. F., Albuquerque, P. M. C., & Contrera, F. A. L. 2017. Effect of honey harvest on the activities of Melipona (Melikerria) fasciculata Smith, 1854 workers. Journal of Apicultural Research, 56(4), 319-327. DOI: 10.1080/00218839.2017.1329795
Goulson D. 1999. Foraging strategies of insects for gathering nectar and pollen, and implications for plant ecology and evolution. Perspectives in Plant Ecology, Evolution and Systematics, 2, 185‒209. DOI: 10.1078/1433-8319-00070
Hammer, O., Harper, D. A. T., & Ryan, P. D. 2001. PAST: Paleontological Statistic software package for education and data analysis. Paleontologia Eletronica, 4 (1), 1-9.
Hilgert-Moreira, S. B., Nascher, C. A., Callegari-Jacques, S. M., & Blochtein, B. 2013. Pollen resources and trophic niche breadth of Apis mellifera and Melipona obscurior (Hymenoptera, Apidae) in a subtropical climate in the Atlantic rain forest of southern Brazil. Apidologie, 45 (1), 129‒141. DOI: 10.1007/s13592-013-0234-5
Hrncir, H., & Maia-Silva, C. 2013. On the Diversity of Foraging-Related Traits in Stingless Bees. In: P. Vit, S. R. M. Pedro, & D. W. Roubik (Eds.), Pot-Honey: a legacy of stingless bees. New York: Springer. p. 654.
Hutcheson, K. 1970. A Test for Comparing Diversities Based on the Shannon Formula. Journal of Theoretical Biology, 129, 151‒154. DOI: 10.1016/0022-5193(70)90124-4.
Kerr, W. E. 1987. Biologia, Manejo e Genética de Melipona compressipes fasciculata Smith (Hymenoptera, Apoidea). Tese de Professor Titular. Universidade Federal do Maranhão, São Luiz, MA, Brasil, p.141.
Kerr, W. E., Absy, M. L., & Souza, A. C. M. 1986. Espécies nectaríferas e poliníferas utilizadas pela abelha Melipona compressipes fasciculata (meliponinae, apidae), no Maranhão. Acta Amazônica, 16/17, 145 - 156. DOI: 10.1590/1809-43921986161156.
Kerr, W. E., Carvalho, G. A., & Nascimento, V. A. 1996. Abelha Urucu: Biologia, Manejo e Conservação. Paracatu: Fundação Acangaú. p.144.
Kleinert, A. M. P., Ramalho, M., Cortopassi-Laurino, M., Ribeiro, M. F., & Imperatriz-Fonseca, V. L. 2009. Abelhas sociais (Meliponini, Apini, Bombini). In: A. R. Panizzi, & J. R. P. Parra (Eds.), Bioecologia e nutrição de insetos-Base para o manejo integrado de pragas. pp. 373‒426. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica.
Marques-Souza, A. C. 1996. Fontes de pólen exploradas por Melipona compressipes manaosensis (Apidae: Meliponinae), abelha da Amazônia Central. Acta Amazônica, 26(1/2), 77‒86. DOI: 0.1590/1809-43921996261086.
Marques-Souza, A. C., Absy, A. L., & Kerr, W. E. 2007. Pollen harvest features of the Central Amazonian bee Scaptotrigona fulvicutis Moure 1964 (Apidae: Meliponinae), in Brazil. Acta Botanica Brasilica, 21(1), 11‒20. DOI: 10.1590/S0102-33062007000100002.
Martins, A. C. L., Rêgo, M. M. C., Carreira, L. M. M., & Albuquerque, P. M. C. 2011. Espectro polínico de mel de tiúba (Melipona fasciculata Smith, 1854, Hymenoptera, Apidae). Acta Amazônica, 41(2), 183‒190. DOI: 10.1590/S0044-59672011000200001
Oliveira, F. P. M., Absy, M. L., & Miranda, I. L. 2009. Recurso polínico coletado por abelhas sem ferrão (Apidae, Meliponinae) em um fragmento de floresta na região de Manaus – Amazonas. Acta Amazônica, 39(3), 505‒518. DOI: 10.1590/S0044-59672009000300004.
Oliveira-Pereira, Y. N., & Rebêlo, J. M. M. 2000. Species of Anopheles in Pinheiro municipality (Maranhão), endemic area of malária. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 33, 443-450. DOI: 10.1590/S0037-86822000000500006
Pielou, E. C. 1977. Mathematical ecology. New York: John Wiley: p. 385.
Ramalho, M., Kleinert-Giovannini, A., & Imperatriz-Fonseca, V. L. 1989. Utilization of floral resources by species of Melipona (Apidae, Meliponinae): floral preferences. Apidologie, 20 (3), 185‒-195. DOI: 10.1051/apido:19890301
Rech, A. R., & Absy, M. L. 2011. Pollen sources used by species of Meliponini (Hymenoptera: Apidae) along the Rio Negro channel in Amazonas, Brazil. Grana, 50(2), 150‒161. DOI: 10.1080/00173134.2011.579621
Roubik, D. W., & Moreno, J. E. P. 1991. Pollen and Spores of Barro Colorado Island. 1ª ed. Saint Louis, MO: Monographs in Systematic Botany from Missouri Botanical Garden: p. 268.
Roubik, D. W. 1979. Nest and a colony characteristics of stingless bees from French Guiana (Hymenoptera: Apidae). Journal of the Kansas Entomological Society, 52, 443‒470.
Roubik, D. W. 1989. Ecology and natural history of tropical bees. Cambridge University Press, New York. p.514.
Shannon, C. E., & Weaver, W. 1949. The Mathematical Theory of Communication. Illinois: University of Illinois Press. p. 117.
Thorp, R. W. 2000. The collection of pollen by bees. Plant Systematics and Evolution, 222, 211‒223. DOI: 10.1007/BF00984103