O PAPEL DA ONIVORIA NA DINÂMICA DAS CADEIAS ALIMENTARES
Palavras-chave:
Onivoria, Forrageamento adaptativo, Estabilidade, Cadeia alimentar.Resumo
A teoria de cadeias alimentares é uma das teorias mais testadas da ecologia e tem sido aplicada com relativo sucesso na recuperação de lagos eutrofizados em zonas climáticas temperadas. No entanto, sua aplicabilidade para a restauração de lagos tropicais eutrofizados tem sido questionada por apresentar alguns pressupostos que ignoram características comuns e dinamicamente importantes das cadeias alimentares desses ambientes, dentre os quais podemos destacar o elevado grau de onívoria dos peixes tropicais. O presente trabalho teve como objetivo avaliar teoricamente as conseqüências da predação por predadores onívoros para a dinâmica das populações de autótrofos e herbívoros em uma cadeia alimentar de três níveis tróficos. Um sistema de duas equações diferenciais foi utilizado para descrever a dinâmica das populações de autótrofos e herbívoros ao longo de um gradiente de densidade de predadores e de preferência dos predadores pelos dois itens alimentares. Os resultados da análise gráfica das isoclinas do modelo demonstram que um aumento na densidade de predadores e/ou na preferência dos predadores pelos herbívoros tende a estabilizar a dinâmica das interações entre autótrofos e herbívoros. Por outro lado, algum grau de onívoria parece ser necessário para permitir a persistência de herbívoros quando as densidades dos predadores são elevadas. Esse resultado é consistente com a idéia de que cadeias alimentares com interações onívoras fracas são mais persistentes e, portanto, mais estáveis do que cadeias alimentares sem onívoria. O mecanismo responsável pelo efeito estabilizador da onívoria no nosso modelo é a substituição de presas pelo predador, que modifica a forma da resposta funcional de um tipo II para um tipo III à medida que o grau de onívoria aumenta. Portanto, concluímos que um forrageamento adaptativo do predador onívoro facilita a persistência dos herbívoros ao menos na ausência de uma resposta numérica do predador.