O PAPEL DOS TRAÇOS FUNCIONAIS NA ECOLOGIA DO FITOPLÂNCTON CONTINENTAL

Autores

  • Jandeson Brasil Dias
  • Vera L. M. Huszar Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Palavras-chave:

fitoplâncton, estrutura da comunidade, grupos funcionais, traços funcionais.

Resumo

É crescente o interesse da ecologia em agrupar organismos com base em traços funcionais das espécies devido a sua maior habilidade em predizer ou explicar a estrutura das comunidades e suas respostas às condições ambientais. O objetivo desta revisão é discutir os fundamentos da abordagem baseada em traços funcionais na ecologia do fitoplâncton continental. Primeiramente, nós identificamos os traços funcionais mais relevantes, em seguida é feita uma revisão dos estudos inovadores sobre a abordagem e, por fim, é apresentada uma breve análise dos grupos funcionais (GF) propostos por Reynolds et al. (2002), aplicada a ecossistemas aquáticos continentais brasileiros. Traços funcionais afetam a aptidão das espécies, via seus efeitos sobre reprodução e sobrevivência, podendo ser: morfológicos (ex. forma, tamanho), fisiológicos (ex. concentração e composição de  pigmentos  fotossintéticos,  capacidade  de  fixação  de  nitrogênio,  produção  de  toxinas),  comportamentais (ex. mixotrofia, motilidade) e de história de vida (ex. reprodução assexuada/sexuada, produção de estágios de dormência). Resultados da análise multivariada baseada em dados de 33 ecossistemas aquáticos brasileiros indicaram que diferentes tipos de ecossistemas (rios, lagos, estuários e reservatórios) compartilham GF similares em estados tróficos similares. Sistemas oligotróficos foram dominados por organismos pequenos ou grandes equipados com traços funcionais, tais como flagelos ou mixotrofia, que lhes permite sobreviver em condições pobres em nutrientes. Em lagos hipereutróficos e misturados, tanto condições nutricionais de enriquecimento (que fornecem matéria suficiente para permitir o aumento no tamanho dos organismos), como diminuição na transparência da água favorecem a dominância de organismos grandes com alta razão superfície/volume, tais como cianobactérias filamentosas. Embora o esquema proposto por Reynolds et al. tenha se mostrado uma ferramenta potencial para sintetizar os tipos de comunidades em ecossistemas aquáticos brasileiros, algumas limitações podem ser assinaladas como: (i) alguns GFs são incluídos sob bases intuitivas; (ii) a necessidade de conhecimento taxonômico de um especialista, e (iii) a circularidade na inclusão de novas espécies no esquema a partir das condições onde vivem. Outros esquemas têm sido propostos visando eliminar essas limitações. Assim, estudos futuros devem dar ênfase em testar quais os esquemas que melhor predizem a composição da comunidade fitoplanctônica em relação às condições ambientais.

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Publicado

2017-02-20