O olhar do terapeuta ocupacional para as infâncias: reflexões a partir de uma experiência em uma escola pública/The ocupational herapist's view of childhood: reflections from an experience in a public school

Autores

DOI:

https://doi.org/10.47222/2526-3544.rbto41288

Palavras-chave:

Infâncias, vulnerabilidade, saúde, favela, escola

Resumo

Introdução: A unificação do conceito de infância é uma produção sócio-histórica, que se reverbera até os dias atuais, gerando desigualdades por não ser coerente a todas as realidades. No campo da saúde, ainda se produz cuidado pautado em um paradigma dominante: branco, burguês e higienista, refletindo em intervenções que não consideram o contexto de escassez de recursos vivenciado por muitas crianças brasileiras. Objetivo: Este estudo tem o objetivo de problematizar o olhar unificado da infância nas intervenções da Terapia Ocupacional, no campo da saúde e sua interface com a educação, a partir da experiência com crianças moradoras de um complexo de favelas no município do Rio de Janeiro/RJ. Método: Trata-se de um estudo, de caráter exploratório, de base qualitativa, que adotou a observação direta e notas em um diário de campo como ferramentas metodológicas no decurso da pesquisa. Resultado/Discussão: As crianças acompanhadas nesta pesquisa apresentaram o encargo do cuidado da casa e de crianças menores e, aparente, normalização da violência como modo de viver a constante negação de direitos básicos. Os profissionais da escola relatam os responsáveis como desinteressados e ausentes quanto à vida escolar dos alunos, contudo, na narrativa trazida pelas crianças, essa ausência se justifica pelas longas jornadas de trabalho enfrentadas pelos responsáveis. Conclusão: Sugere-se que mais literaturas abordando esse tema sejam produzidas e discutidas para que a prática da Terapia Ocupacional se alinhe cada vez mais aos contextos reais tão diversos vividos pelas pessoas. 

Palavras-chave: Infâncias. Vulnerabilidade. Saúde. Favela. Escola


Abstract

Introduction: The unification of the concept of childhood is a socio-historical production that reverberates to the present day, generating inequalities because it isn’t coherent to all realities. In the field of health care we still produce a practice based on a dominant paradigm: white, bourgeois and hygienist, reflecting on interventions that do not consider the context of scarcity of resources experienced by many Brazilian children. Objective: This study aims to problematize the unified view of childhood in occupational therapy interventions in the field of health care and its interface with education, based on the experience with children living in a slum complex in the city of Rio de Janeiro / RJ.  Method: This is an exploratory, qualitative study that adopted direct observation and notes in a field diary as methodological tools in the course of the research. Result/Discussion: The children monitored in this research presented the burden of caring for the home and younger children and apparent normalization of violence as a way of living the constant denial of basic rights. The school professionals report the guardians as disinterested and absent as to the students' school life, however in the narrative brought by the children, this absence is justified by the long working hours faced by the guardians. Conclusion: It is suggested that more literature addressing this theme be produced and discussed so that the practice of Occupational Therapy is more and more aligned with these contexts so real and so diverse experienced by these people.

Keywords: Childhood. Vulnerability. Health. Slum. Shanty town. School.

 

Resumen

Introducción: La unificación del concepto de infancia es una producción socio histórica que repercute hasta la actualidad, ocasionando desigualdades por no ser coherente con todas las realidades. En el campo de la salud se sigue produciendo a partir de un paradigma dominante: blanco, burgués e higienista, reflejando sobre intervenciones que no consideran el contexto de escasez de recursos que viven muchos niños brasileños. Objetivo: Este estudio tiene como objetivo problematizar la visión unificada de la infancia en las intervenciones de terapia ocupacional en el campo de la salud y su interfaz con la educación, a partir de la experiencia con niños que viven en un complejo de tugurios en la ciudad de Rio de Janeiro/RJ. Método: Se trata de un estudio exploratorio, cualitativo que adoptó la observación directa y las anotaciones en un diario de campo como herramientas metodológicas en el curso de la investigación. Resultado/Discusión: Los niños monitoreados en esta investigación presentaron la carga de cuidar de los niños más pequeños y la aparente normalización de la violencia como una forma de vivir la constante negación de los derechos básicos. Los profesionales de la escuela relatan que los padres, estos niños, son desinteresados y ausentes en cuanto a la vida escolar de los alumnos, sin embargo, en la narrativa que traen los niños esta ausencia se justifica por las largas jornadas laborales que enfrentan los padres y madres. Conclusión: Se sugiere producir y discutir más literatura que aborde este tema para que la práctica de la Terapia Ocupacional esté cada vez más alineada con los contextos reales tan diversos vividos por las personas.

Palabras clave: Infancia. Vulnerabilidad. Salud. Tugurios. Escuela.

Referências

Aoki, M., Oliver, F. C. & Nicolau, S. M. (2006). Pelo direito de brincar: conhecendo a infância e potencializando a ação da terapia ocupacional. Rev. Ter. Ocup. Univ. São Paulo, 17(2), 57-63. http://doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v17i2p57-63.

Ariès, P. (1981). História social da criança e da família. (2ª ed). Rio de Janeiro: LTC.

Bardi, G., Monzeli, G. A., Macedo, M. D., Neves, A.T. & Lopes, J. (2016). Oficinas socioculturais com crianças e jovens sob a perspectiva da Terapia Ocupacional Social. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 24(4). http://doi.org/ 10.4322/0104-4931.ctoRE0643.

Bock A.M.B., Furtado O. & Teixeira, M.L. (1999). Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia. São Paulo: Saraiva.

Bogdan, R. & Biklen, S. (1994). Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e os métodos. (1ª ed), Porto: Porto Editora.

Colonna, E. (2012). Eu é que fico com minha irmã: a vida quotidiana das crianças na periferia de Maputo. [Tese de doutorado, Universidade do Minho].

Connoly, M. & Ennew, J. (1996). Introduction: children out of place. (3ª ed). Trondheim: Childhood.

Demarzo M. M. P. & Aquilante A. G. (2008). Saúde Escolar e Escolas Promotoras de Saúde. In: Programa de Atualização em Medicina de Família e Comunidade. Porto Alegre: Artmed: Pan-Americana.

Dimenstein M., Zamora, M. H. & Vilhena J. (2004). Da vida dos jovens nas favelas cariocas. Drogas, violência e confinamento. Revista do Departamento de Psicologia UFF. Rio de Janeiro; 16 (1), 24-39. https://www.researchgate.net/publication/268924221_Da_vida_dos_jovens_nas_favelas_cariocas_Drogas_violencia_e_confinamento

Gonçalves, M. & Malfitano, A. P. (2019). Juventudes no Complexo do Alemão (RJ): O que diz a literatura? Rev. Interinst. Bras. Terap. Ocup., 3 (3). http://doi.org/ 10.47222/2526-3544.rbto21187.

Jaccoud M, & Mayer R. (2014). A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e metodológicos. (4º ed). Petrópolis: Vozes.

Lima E. M .F .A. (2004). A análise de atividade e a construção do olhar do terapeuta ocupacional. Rev. Ter. São Paulo: Ocup. Univ. São Paulo; 15(2), 42-8. doi: 10.11606/issn.2238-6149.v15i2p42-48.

Linhares, J. (2016). História Social da Infância. (2ª ed. Sobrau): LTC.

Nogueira, M. A. & Nogueira, C.M. (2016). Bourdieu e a Educação. (4° ed). Belo Horizonte: Autêntica.

Núcleo de Pesquisa em Políticas Públicas de Saúde Mental (NUPPSAM). Rede, Território e Atenção Psicossocial para crianças e adolescentes: Compartilhamento e Colaboração Intersetorial. Relatório de atividades realizadas no ano de 2017, 2018. Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ; 2018.

Oliveira C. B. E. & Araújo C. M. M. (2010). A Relação família-escola: Intersecções e desafios. Estud. psicol. Campinas, 27(1). http://doi.org/10.1590/S0103-166X2010000100012

Oliveira L. C. F. (2002). Escola e família numa rede de (des)encontros: um estudo das representações de pais e professores. São Paulo: Cabral Editora.

Pedroso A. & Sousa, L. (2014). A casa dos cata-ventos: uma aposta na dimensão política do brincar. Rev. Assoc. Psicanalista. (45-46), 122-134. https://appoa.org.br/uploads/arquivos/revistas/revista_45_46_2.pdf

Pérez B. C. & Jardim, M. D. (2015). Os lugares da infância na favela: da brincadeira à participação. Psicologia & Sociedade, 27 (3). http://doi.org/doi: 10.1590/1807-03102015v27n3p494.

Rezende M. B (2017). Terapia Ocupacional e inclusão escolar: desafios e reflexões sobre a prática. Belo Horizonte: CREFITO 4. http://crefito4.org.br/site/2017/04/28/terapia-ocupacional-e-inclusao-escolar-desafios-e-reflexoes-sobre-a-pratica/

Rezende M. B. (2008). O brincar e a intervenção da Terapia Ocupacional. In: Drummond AF, Rezende MB (Orgs.). Intervenções da Terapia Ocupacional. Belo Horizonte: UFMG.

Rousseau, J. J. (2013). Do contrato social: princípios do direito político. São Paulo: Pillares.

Sarmento, M. J. (2008). Sociologia da Infância: Correntes e Confluências. In Sarmento, M.J. & Gouvêa, M.C.S (org.). Estudos da Infância: educação e práticas sociais. Petrópolis. Vozes (17-39).

Valladares L. (2000). A gênese da favela carioca: A produção anterior às ciências sociais. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 15(44), 5-34. http://doi.org/10.1590/S0102-69092000000300001.

Downloads

Publicado

08-11-2021