Meronímia e (in)alienabilidade em Apurinã

Autores

DOI:

https://doi.org/10.31513/linguistica.2021.v17n1a38227

Palavras-chave:

meronímia, (in)alienabilidade, Apurinã.

Resumo

O presente artigo discute o fenômeno da meronímia na língua indígena Apurinã (família Aruák), que corresponde aos processos envolvidos na expressão das relações parte/todo (CRUSE, 2011). São poucos os trabalhos linguísticos descritivos que contemplam tal questão em línguas indígenas (KLEIN, 2000). Em Apurinã, os merônimos apresentam comportamento morfossintático específico, a depender da classe de nomes a que pertencem. A maioria dos merônimos em Apurinã é codificada sob a forma de nomes inalienáveis, que apresentam padrões de marcação morfológica diferentes daqueles dos nomes alienáveis, embora haja alguns casos de merônimos codificados como alienáveis, por exemplo, certas partes de plantas como kawy-ry1 (pupunha-N.POSSD2) ‘pupunha’/ ny-kawy-re (1SG-pupunha-POSSD) ‘minha pupunha’. Dentre os inalienáveis, temos os merônimos relativos a partes do corpo (incluindo conceitos relacionados ao corpo, ainda que metaforicamente, e alguns conceitos abstratos), como kanuke-txi (braço.de3-N.POSSD) ‘braço (não se sabe de quem)’/ py-kanuke (2SG-braço.de) ‘teu braço’, que recebem o sufixo -txi; diferindo dos inalienáveis relativos aos termos de parentesco, que não recebem esse sufixo, pela impossibilidade de ocorrerem não possuídos, como em nh-ithary (1SG-irmão.de) ‘meu irmão’/ *ithary-txi (irmão). Assim, o macrodomínio semântico dos merônimos em Apurinã se organiza de modo complexo, embora sistemático e, dada a carência de estudos desse fenômeno em línguas indígenas, justifica-se a relevância desta pesquisa.


[1]Chave para a ortografia: y = [i]; ts = [ts]; x [ʃ]; tx = [tʃ]; th = [c].

[2]Abreviaturas usadas neste artigo: 1 = 1ª pessoa; 2 = 2ª pessoa; 3 = 3ª pessoa; SG = singular; PL = plural; POSSD = possuído; N.POSSD = não possuído; INTENS = intensificador; F = feminino; M = masculino; O = objeto; VBLZ = verbalizador.

[3]Nomes inalienáveis em Apurinã são glosados desta maneira pelo fato de a posse fazer parte da entrada lexical de tais nomes.

Biografia do Autor

Marília Fernanda Pereira de Freitas, Universidade Federal do Pará (UFPA)

Marília Freitas graduou-se em Licenciatura em Letras - Habilitação em Língua Portuguesa (2005) e Inglesa (2007) pela Universidade Federal do Pará. Concluiu o curso de Mestrado em Letras - Estudos Linguísticos - no Programa de Pós-Graduação em Letras da mesma instituição (2008). Foi contemplada com bolsa CAPES, Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE), vigente de setembro/2015 a abril 2016, atuando como research scholar na University of Texas at Austin (UT-Austin). Concluiu o Curso de Doutorado em Letras (2017), também na UFPA. É professora efetiva da Universidade Federal do Pará, na Faculdade de Letras, desde 2011.Foi coordenadora adjunta do Curso de Letras/ Português do Parfor/ UFPA, de agosto de 2017 até março de 2018, data a partir da qual assumiu a função de coordenadora do mesmo curso.

Roseane Pereira Cordovil, Universidade Federal do Pará (UFPA)

Aluna do Curso de Graduação em Língua Portuguesa da Universidade Federal do Pará. É membro da equipe do projeto de pesquisa "Meronímia em Apurinã: relações parte/todo e (in)alienabilidade em construções nominais", sendo pesquisadora voluntária na iniciação científica.

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Publicado

2021-04-12