Quantificadores adverbiais em Asurini do Trocará, Tupinambá e Guarani Mbyá (família Tupi-Guarani)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.31513/linguistica.2021.v17n1a54084

Palavras-chave:

família Tupi-Guarani, quantificação, quantificadores adverbiais, afixos verbais, indeterminação categorial.

Resumo

A quantificação é um tema de investigação ainda pouco explorado entre as línguas da família Tupi-Guarani. Vieira (1995) foi uma das primeiras investigadoras a realizar uma análise preliminar sobre os tipos de quantificadores empregados em uma língua desse grupo linguístico: o Asurini do Trocará. Já se vai mais de vinte e cinco anos desde essa publicação e até hoje ainda não surgiu nenhum outro estudo sobre a expressão da quantificação nessas línguas. O nosso objetivo neste artigo é bastante simples: resgatar a pesquisa inicial de Vieira, trazendo-a como ponto de partida para a realização de um estudo comparativo entre o Asurini e outras duas línguas geneticamente relacionadas: o Tupinambá e o Guarani Mbyá. Para fins da descrição dos termos quantificacionais encontrados nessas línguas, fazemos uso da distinção sugerida por Partee et al. (1987) entre dois tipos de quantificação: D(eterminante) e A(dverbial). A quantificação-D se refere aos elementos determinantes, ao passo que a quantificação-A engloba elementos de categorias sintáticas variadas, como: advérbios, verbos auxiliares e afixos verbais e nominais, dentre outros. Mostramos aqui, assim como já o fez Vieira (1995), que as línguas da família Tupi-Guarani sob investigação empregam somente quantificadores-A para expressar noções de cardinalidade e de quantificação universal. Esses quantificadores exibem escopo não-seletivo, podendo operar não só sobre predicados (eventos), mas também sobre NPs (indivíduos). Uma característica interessante dos quantificadores-A que expressam cardinalidade é a sua indeterminação categorial que permite que se realizem ora como advérbios ora como verbos. Essa mudança de categoria pode ser explicada pela Morfologia Distribuída (Marantz, 1997; Siddiq, 2009) que sugere que as classes das palavras são derivadas sintaticamente pela junção de raízes lexicais com núcleos funcionais específicos. Além de palavras independentes, os sufixos nominais e verbais são utilizados para expressar o indefinido “muitos” e o quantificador universal “todos”. Estes sufixos também são operadores não-seletivos que podem ligar qualquer variável disponível sob o seu escopo, como os argumentos absolutivos e o evento verbal. Vê-se, então, que noções quantificacionais importantes são codificadas nas línguas da família Tupi-Guarani por meio de quantificadores-A –advérbios, verbos e sufixos-, em detrimento de quantificadores-D.

Biografia do Autor

Marcia Maria Damaso Vieira, Museu Nacional / Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Possui graduação em Português Inglês pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1977), mestrado em Lingüística - University of Southern California (1981), com doutorado-sanduíche em Lingüística - pela University of Arizona (1991) e doutorado em Lingüística pela Universidade Estadual de Campinas (1993). Atualmente é professor associado 2 da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Lingüística, com ênfase em Morfologia e Sintaxe, atuando principalmente nos seguintes temas: categorias funcionais, gramática de línguas indígenas, línguas indígenas, categorias lexicais e aquisição de primeira e segunda línguas.

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Publicado

2021-04-12