A chaga e o fármaco
Relativismo e perspectivismo em Merleau-Ponty e Viveiros de Castro
DOI :
https://doi.org/10.59488/tragica.v18i2.68134Mots-clés :
perspectiva, perspectivismo, relativismo, multiplicidadeRésumé
O mundo e o conhecimento revelados a partir de uma única perspectiva – por se pressupor uma multiplicidade de pontos de vista – é frequentemente cotejado enquanto um “perigoso” relativismo. No presente artigo, quer-se mostrar que, embora o perspectivismo em Merleau-Ponty seja fundamentalmente distinto do perspectivismo ameríndio de Viveiros de Castro, sobretudo porque oriundos de campos do conhecimento distintos, uma comparação entre ambos no que diz respeito às relações que mantêm com o relativismo não devolve um som oco. Para tanto, primeiramente, será proposta uma “perspectiva” do conceito de perspectiva, uma trajetória do conceito que passa por Merleau-Ponty até chegar ao perspectivismo de Gilles Deleuze, influência teórica com a qual Viveiros de Castro, junto às próprias referências etnográficas que são repertório da disciplina de Antropologia Cultural, fundou o conceito de perspectivismo ameríndio. Na sequência, será demonstrado que a noção de multiplicidade em ambos os autores é a chave para se compreender que, ainda que ambos os perspectivismos não sejam relativismos, eles mantêm estreita relação com a relatividade, isto é, com o primado da relação que se faz no seio da diferença.
Téléchargements
Références
ALMEIDA, Mauro W. B. “Guerras culturais e relativismo cultural”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 14, n. 41, p. 12, 1999. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-69091999000300001
BARCELOS NETO, A.; RAMOS, D.; BÜHLER, M. S.; SZTUTMAN, R.; MARRAS, S.; MACEDO, V. Abaeté, Rede de Antropologia Simétrica. Cadernos de Campo (São Paulo - 1991), São Paulo, v. 15, n. 14-15, p. 177-190, 2006. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v15i14-15p177-190. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v15i14-15p177-190
BITENCOURT, Joceval Andrade. “Descartes e a invenção do sujeito”. São Paulo: Paulus, 2017. (Coleção Filosofia em questão).
BOFF, Leonardo. A águia e a galinha: uma metáfora da condição humana. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1998. p. 9.
DELEUZE, Gilles. A dobra: Leibniz e o barroco. Campinas: Papirus, 2012.
DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição. Tradução de Luiz B.L. Orlandi e Roberto Machado. Rio de Janeiro: Graal, 2. ed., 2006 [1968].
DELEUZE, Gilles. Empirismo e subjetividade. São Paulo: Editora 34, 2012.
DELEUZE, Gilles. Lógica do sentido. Tradução de Luiz Roberto Salinas Fortes. São Paulo: Perspectiva, 5. ed., 2009 [1969].
GERHARDT, Volker; HEROLD, Norbert. Perspektiven des Perspektivismus. Würzburg: Königshausen und Neumann, 1992.
GEERTZ, Clifford. Nova luz sobre a antropologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. Capítulo 3: Anti anti-relativismo.
GOLDMAN, Marcio. Mais alguma antropologia: ensaios de geografia do pensamento antropológico. São Paulo: Ponteio, 2016.
KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. A/B/C. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2001.
KAULBACH, F. Philosophie des Perspektivismus: 1. Teil: Wahrheit und Perspektive bei Kant, Hegel und Nietzsche. Tübingen: Mohr, 1990.
LACERDA, T. M. “Leibniz: a infinitude divina e o infinito em nós”. Cadernos Espinosanos, São Paulo, n. 34, jan./jun. 2016. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/espinosanos/article/view/116945/114474. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2447-9012.espinosa.2016.116945
LUCRÉCIO. Da Natureza. Col. “Os Pensadores”. São Paulo: Abril S.A., 1973, Vol. 5. p. 39-140.
MERLEAU-PONTY, Maurice. O primado da percepção e suas consequências filosóficas. Tradução de Constança Marcondes Cesar. Campinas: Papirus, 1990.
MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. Tradução de Carlos Alberto Ribeiro de Moura. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
MERLEAU-PONTY, Maurice. “De Mauss a Claude Lévi-Strauss”. In: OS PENSADORES. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 193-206.
MOTA, T. “Nietzsche e as perspectivas do perspectivismo”. Cadernos Nietzsche, São Paulo, n. 27, 2010, p. 213-237.
MOUTINHO, L. D. S. “O sensível e o inteligível: Merleau-Ponty e o problema da racionalidade”. Kriterion, Belo Horizonte, n. 110, dez. 2004, p. 264-293. DOI: https://doi.org/10.1590/S0100-512X2004000200005
NIETZSCHE, Friedrich. Ecce homo. Tradução de Paulo Cesar de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da moral: uma polêmica. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada. Petrópolis: Vozes, 1999.
SARTRE, Jean-Paul. Situações I. São Paulo: Cosac & Naify, 2006.
SEGER, Anthony; DA MATTA, Roberto; VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. “A construção da pessoa nas sociedades indígenas brasileiras”. Boletim do Museu Nacional, Rio de Janeiro, v. 32, p. 2-19, 1979.
SOUZA, T. M. de. “Tensão e ambiguidade na filosofia de Jean-Paul Sartre”. Trans/Form/Ação, São Paulo, v. 35, n. 1, abr. 2012. DOI: https://doi.org/10.1590/S0101-31732012000100010. DOI: https://doi.org/10.1590/S0101-31732012000100010
VILAÇA, Aparecida. “Chronically unstable bodies”. Journal of the Royal Anthropological Institute, Londres, v. 11, p. 445-464, 2005. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1467-9655.2005.00245.x
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo B. “Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio”. Mana, Rio de Janeiro, v. 2, n. 2, p. 115-144, 1996. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-93131996000200005
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo B. A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac & Naify, 2002.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo B. Metafísicas canibais. São Paulo: CosacNaify, 2015. E-book Kindle.
WAGNER, Roy. A Invenção da Cultura. Trad. Marcela Coelho de Souza e Alexandre Morales. São Paulo: Cosac Naify, 2010. E-book Kindle.
Téléchargements
Publiée
Numéro
Rubrique
Licence
© Joao Paulo Undiciatti Barbieri 2025

Ce travail est disponible sous la licence Creative Commons Attribution 4.0 International .
Les auteurs préservent les droits d'auteur et accordent à la revue le droit de première publication, le travail étant simultanément sous licence Creative Commons Attribution 4.0 International (CC BY). Cette licence permet à des tiers de remixer, d'adapter et de créer à partir du travail publié, en attribuant le crédit d'auteur et la première publication dans cette revue. Les auteurs sont autorisés à accepter des contrats supplémentaires séparément pour la distribution non exclusive de la version du travail publié dans cette revue (par exemple, publier dans un référentiel institutionnel, sur un site personnel, publier une traduction ou en tant que chapitre de livre), avec reconnaissance de l'auteur et de la publication initiale dans cette revue.









